Decreto com as regras para unidades que desejarem se adequar para receber animais foram publicadas no Diário Oficial de sexta-feira (5)
Uma iniciativa da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj) permite que cães e gatos entrem e permaneçam em estabelecimentos com seus tutores.
Um decreto do prefeito Eduardo Paes, publicado nesta sexta-feira (5) estabelece as regras a serem seguidas por tutores dos animais e proprietários de lojas desse segmento. O Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e de Inspeção Agropecuária (IVISA-Rio), será o órgão responsável pela fiscalização e multa em casos de irregularidade.
Segundo a associação, a mudança vem a partir de uma demanda por parte dos consumidores, que cada vez mais incluem os pets na rotina diária de afazeres fora de casa, como já tem se popularizado em shoppings centers e restaurantes.
De acordo com a Asserj, o Rio será a primeira capital no Brasil a permitir supermercados pet friendly. Antes, no entanto, os estabelecimentos que queiram aderir vão precisar se adequar para receber os novos consumidores. As lojas que aceitem e estiverem de acordo com a portaria vão receber o selo Super Pet, da Asserj, uma forma de identificar os locais onde é permitida a entrada dos animais.
Dada a possibilidade de contato direto dos pets com alimentos, entre outros produtos, o que pode vir a oferecer perigo para consumidores e para os próprios animais, o decreto traz uma série de regras de como deve ser o comportamento nas lojas.
Somente será permitida a entrada de cães e gatos. O tutor deve apresentar, ainda na entrada do supermercado, certificado de vacinação e comprovante de vermifugação de cada animal. Eles devem estar em caixas própria para transporte ou em guias.
A loja pode oferecer um carrinho de compras especial onde tem lugar próprio para o pet. Caso o equipamento não esteja disponível, o animal não pode ser colocado nos carrinhos regulares. Cães de grande porte só podem entrar se estiverem usando focinheira também.
Animais que demonstrem comportamento agressivo ou de alto nível de estresse não devem ter a entrada permitida.
“Entendem que é importante os animais participarem com os donos. Os estabelecimentos precisam ter um cuidado, ser responsável por isso também. Claro que não pode virar risco para o consumidor. Um animal estressado ou agressor não pode acessar, por isso tem restrições para os tutores e para os estabelecimentos. O acesso de animais vacinados é o mínimo que se espera em sociedade no dia a dia”, diz a presidente do IVISA-Rio, Aline Borges.
Para a médica veterinária funcional e integrativa, mestre em ciência animal e doutora em biotecnologia na saúde Joyce Magalhães, os avanços em aceitar os pets cada vez em mais espaços é uma realidade, mas exige muita preparação e cuidado para que, então, possa recebê-los de forma segura.
Uma das peças-chave, conta, é o bom senso do tutor. É ele quem sabe da personalidade do animal — por exemplo, se é agressivo ou sabe lidar com lugares onde há muitos estímulos — e se está saudável para ter contato com outros e com pessoas.
“Temos que nos preocupar com zoonoses, com transmissão das doenças entre os pets, com brigas, incidentes com mordidas em pessoas e em outros animais. E falta muita educação. Nunca vi lugares dizendo que o animal tem que ser castrado, que a fêmea não pode estar no cio. Não vejo essas regras. Eles se preocupam mais com animais grandes por causa da focinheira e pelos riscos. É preciso também uma equipe treinada para atender o que for preciso lá dentro, como tem para pessoas. Cada tutor cria de uma forma. É um avanço, as pessoas ficam feliz de ganharem bastante espaço, mas tem que ver como vai funcionar”, salienta a médica veterinária.
Para uniformizar o atendimento e divulgar as práticas a serem seguidas por todos nos supermercados, a Asserj vai emitir uma cartilha, afirma o presidente da associação, Fábio Queiróz.
O decreto passou a valer já na sexta-feira (5). Para celebrar e dar o ponta pé inicial, houve uma ação no sábado, dia 6, na unidade do Carrefour na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, primeira a aderir.
“É proibida a circulação nas áreas de produção, de manipulação e de consumação imediata. Por exemplo, a rotisserie, o self-service para comer na hora, não pode, claramente. Eu não vi muita dificuldade nisso. A área de manipulação, como o açougue e de frios já está isolada pelo balcão, não pode ultrapassar esse espaço. E cada vez mais os produtos estão embalados. Quando estão fechados, é com anteparos, vidros, não tem contato com o animal. É por isso que a prefeitura e a IVISA liberaram na hora, gostaram da ideia e a gente conseguiu essa legislação, que as lojas são sim um ambiente seguro para que o alimento não seja impactado por pelos de animais, xixi e coco”, afirma Queiróz.
Caso a unidade queira, será permitido fazer uma espécie de pet park onde os animais poderão interagir uns com os outros e ter acesso a brinquedos. Fora dessa área, as normas seguem, conta a presidente da IVISA-Rio:
“Dentre as restrições, o animal não pode consumir e beber água dentro do estabelecimento, não pode circular nas áreas de manipulação e de armazenamento. Pode ficar onde está acontecendo a compra, mas não pode manter o animal ali pensando no cliente que está consumindo”, diz Aline Borges.
Em casos os quais o pet acabe urinando ou defecando, tanto o tutor, como demais clientes e funcionários podem acionar a equipe de limpeza para a higienização, modelo seguido nos ambientes de shoppings centers.
“Os funcionários já estão treinados. Não tem diferença nenhuma de um cachorro fazer suas necessidades ou de cair um vidro, um tomate no chão. Eles estão preparados. As equipes de limpeza já estão nas lojas normalmente, sem nenhuma intercorrência”, diz o presidente da Asserj.
Para a médica veterinária Joyce Magalhães, uma vez que a unidade opte por se tornar pet friendly, é preciso investir na divulgação de boas práticas não só no comportamento do tutor na loja, por exemplo evitando que o animal urine no lugar errado, como em reforçar a maneira correta de higienizar os diferentes tipos de produtos, em especial alimentos.
“Educar o cliente a como proceder aquele alimento, sendo saudável. Ao invés de excluir o pet de setores, fazer uma psicologia reveza, uma educação da higienização daquele alimento para ser saudável o consumo. Dicas de como armazenar e limpar corretamente. Outro ponto é que o cliente que não se sentir a vontade com esse ambiente, tem que ser ouvido também. O que esta dando certo? E errado? O que pode mudar? Essa pessoa deve ser ouvida também”, diz Joyce.
Uma vez que os espaços pet friendly têm se multiplicado, a médica veterinária destaca que deve haver um mínimo de preparo para cada avanço, e que isso só é possível a partir de educação e conhecimento. Para ela, antes de uma unidade se adaptar e aderir ao selo, dever-se fazer um ciclo de bate-papos reunindo tutores, especialistas e lojistas para se pensar na boa convivência, o que inclui segurança para animais e pessoas.
“Antes de se abrir deveria fazer um workshopping dentro do supermercado, como profissionais falarem sobre a educação, numa situação de risco e como ajudar. Como se preparar para esses ambientes? O que pode acontecer nesse ambiente? O tutor que quer levar, quer fazer tudo certo para o pet continuar sendo recebido. Uma pesquisa com o público, para dar dica, ideia, falar sobre como é o pet. As pessoas respeitam mais o processo, porque se sentem parte daquilo. Ouvir profissionais da área e o que os tutores esperam do estabelecimento”, salienta.
Treinar as equipes dos supermercados que aderirem está nos planos do INVISA-Rio.
“A gente pensa em fazer capacitação, dar todo o suporte necessário para o estabelecimento que resolver a aderir o programa”, afirma Aline Borges.
O órgão será o responsável pela fiscalização das lojas que se tornarem pet friendly. Será avaliado se o programa está de acordo com o código sanitário e com as novas regras. Em casos de descumprimento, o estabelecimento pode ser multado a cada infração. Haverá programas de acompanhamento regular e o público em geral pode fazer denúncias e reclamações através do canal da Prefeitura 1746.
“O tutor deve seguir as regras de boa convivência como já faz no condomínio, na rua. O bom tutor já sabe o que fazer. O mau tutor sabe que está errado. O bom senso é o que determina a boa convivência, por exemplo, não permitindo que o cachorro suba nas gôndolas, que acione as equipes de limpezas que estarão sempre a postos”, diz o presidente da Asserj.
O ambiente de um supermercado também pode causar estresse no animal por conta de tantos estímulos, como luzes, barulhos e contato com muitas pessoas ao mesmo tempo num ambiente fechado.
Joyce indica que a ida a esse tipo de estabelecimento de maneira gradual. As primeiras vezes devem ser para comprar poucos itens, o mínimo possível, para não alongar o tempo na loja e poder ficar atento a como o animal reage.
Se for bem sucedido, então pode aumentar gradativamente a permanência. Em épocas de muito movimento, como promoções e datas festivas, o melhor é não levar o pet.
“Um animal com sobrepeso, um da raça pug, por exemplo, com dificuldade de respirar, que não é socializado, e de repente ele vai levar e ficar no carrinho, pode ter parada cardiorrespiratória pelo estresse. Cães da pandemia, criados por dois anos presos dentro de casa, sem socializar com outras pessoas e com outros ambientes, pode ter um nível de estresse tão grande que pode levar à parada cardiorrespiratória. Não é só o contato de alguns produtos, mas e o carrinho (os especiais), como será higienizado? O animal não ter sintomas não é sinal de que está saudável”, aponta a médica veterinária.
A presidente do IVISA-Rio reforça os cuidados:
“Acho que cada tutor conhece o comportamento do seu animal. E claro que o que não consegue ser sociável vai ser detido. E é uma obrigação do estabelecimento de não conseguir o acesso”, destaca Aline Borges.