Substância associada ao Parkinson pode estar na sua casa

Um estudo recente revela que o tricloroetileno (TCE) pode aumentar em 500% a chance de um paciente desenvolver a doença de Parkinson

Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, revelou que uma substância química presente em marcadores de texto, produtos de limpeza e removedores de tinta está relacionada ao desenvolvimento da doença de Parkinson.

O tricloroetileno (TCE) é um composto químico comum em muitos produtos do dia a dia e anteriormente já foi relacionado a casos de câncer. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) classifica o TCE como um agente comprovadamente cancerígeno, considerando o estudo realizado pela National Center for Environmental Assessment (NCEA).

No estudo recente publicado no Jornal of Parkinson´s Disease, neurologistas norte-americanos disseram que a substância está associada a um risco 500% maior de desenvolver a doença.

Como foi feito o estudo

Nas pesquisas, foram utilizados os perfis de sete indivíduos — entre eles um ex-jogador de basquete da NBA, uma capitã da Marinha e um falecido senador dos EUA, que em algum momento de suas vidas foram expostos ao tricloroetileno.

No caso do jogador de basquete Brian Gran, que jogou NBA durante 12 anos e foi diagnosticado com Parkinson aos 36, o atleta foi exposto ao TCE durante sua infância no Camp Lejeune, onde seu pai trabalhava. Ele e milhares de pessoas nadavam e bebiam água do abastecimento de água local.

Estudos realizados pela Agência para Substâncias Tóxicas e Registros de Doenças dos EUA mostram que a contaminação da água potável em Camp Lejane começou a partir dos anos 1950.

Outro perfil usado na pesquisa foi o de Amy Lindberg, que foi exposta à água contaminada de Camp Lejane enquanto serviu a Marinha e foi diagnosticada com a doença 30 anos depois.

No caso do senador norte-americano Johnny Isakson, diagnosticado com Parkinson em 2015, a exposição à substância ocorreu na década de 60 quando serviu a Guarda Aérea Nacional da Geórgia. Na época, usava-se o tricloroetileno para a limpeza de aviões.

Nos estudos com animais, o composto causou a perda de células nervosas produtoras de dopamina, que é uma das características da doença de Parkinson em humanos.

Pessoas estão expostas ao TCE sem saber

O doutor Rubens Cury, neurologista do Hospital das Clínicas, explica que os pesquisadores começaram a notar que países mais industrializados, como os EUA e China, têm mais casos da doença na comparação com países que não possuem tantas fábricas. Aliado a isso, os pesquisadores identificaram que as pessoas mais expostas a esse solvente têm um risco elevado de desenvolver Parkinson.

O especialista explica a relação do tricloroetileno com a doença:

“Hoje, os pesquisadores estão olhando para essa substância e tentando de fato ver se ela pode ser uma das causas do aumento dos casos de doença de Parkinson no mundo todo. O que há de concreto é que os fatores ambientais devem interagir com fatores genéticos causando a doença.

A pessoa talvez tenha uma predisposição genética e os fatores ambientais associados aos fatores genéticos levam a uma redução na produção da dopamina no cérebro, uma lesão no neurônio e, consequentemente, à doença de Parkinson”.

Ainda que trabalhadores de fábrica, por exemplo, estejam mais expostos à substância, os autores do estudo alertam que milhões de pessoas têm contato com o produto químico “sem saber”. Isso acontece por diversas formas, como poluição do ar, contaminação da água e solo.

“Por mais de um século, o TCE ameaçou os trabalhadores, poluiu o ar que respiramos – por fora e por dentro – e contaminou a água que bebemos. O uso global está crescendo, não diminuindo”, diz Estudo “Tricloroetileno: uma causa invisível da doença de Parkinson?”.

Diferente formas de exposição ao tricloroetileno (Imagem: Reprodução/Jornal of Parkinson´s Disease)

O que é a doença de Parkinson?

O especialista em neurologia explica que o Parkinson é uma doença crônica caracterizada pela lentidão dos movimentos. Ela é causada pela redução na produção de dopamina. Esse importante neurotransmissor está diretamente ligado ao controle motor, cognição, prazer e humor.

“Quando a dopamina começa a diminuir, a pessoa começa a apresentar os sintomas”, disse Dr. Rubens Cury, neurologista do Hospital das Clínicas e.

A doença surge em média entre os 55 e 60 anos de idade. Porém, como mostramos na reportagem, há casos de pacientes mais jovens que apresentam os primeiros sinais.

Rubens Cury explica que alguns pacientes desenvolvem a doença por fatores genéticos, mas grande parte dos diagnósticos de Parkinson têm outras causas.

Dopamina: O que é, para que serve e como aumentar

O neurologista observa que, muitas vezes, esse processo é uma incógnita na medicina. Isso levou pesquisadores a se questionarem se há agentes ambientais que não são conhecidos a fundo, mas que podem estar relacionados à incidência da doença.

“Essa é uma questão em aberto e diversas pesquisas estão sendo feitas no mundo inteiro para tentar responder essa questão”.

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