A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 começou a sua articulação política por meio de um “acordão” entre os senadores opositores ao Governo Bolsonaro.
Como todo pacto, era de se supor que os integrantes do “contrato” teriam unidade. Mas, passadas três semanas do início dos trabalhos, as divergências entre os parlamentares começam a surgir.
O ex-presidente do Senado Federal, com vários processos na Justiça por corrupção, Renan Calheiros (MDB-AL), que é relator da Comissão e pai do governador de Alagoas, Renan Calheiros Filho (MDB-AL), iniciou as atividades na “CPI do Circo” com “sangue nos olhos”.
Ao que tudo indica, a ideia de Calheiros era demonstrar um tom assim, mais autoritário e grosseiro para intimidar os depoentes e fazê-los confirmar as respostas que o senador já tinha como certas, mesmo antes de instaurada a Comissão.
Tanto é verdade que Calheiros recebeu duras críticas da imprensa, autoridades e outros parlamentares; sem contar a opinião do povo que se manifestou nas redes sociais. Mas, Renan ignorou o julgamento alheio, fez “ouvido de mercador” e continuou a atacar os depoentes sem parar. No dia 12 de maio, um atrito público com o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), foi devastador.
Enquanto Aziz estava ausente da sessão, Renan pediu a prisão do ex-Secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten, que estava depondo, alegando suposto “falso testemunho”.
Quando voltou à sessão, Aziz não se fez de rogado e bradou em “alto e bom som”:
“Vossa Excelência tinha falado comigo sobre a questão da prisão. Eu disse que não iria fazê-lo. Eu não iria fazê-lo. E Vossas Excelências insistiram com isso. Eu não sou idiota. Nós falamos aqui. Eu falei: “Olha, não vou fazer isso”, rebateu Aziz, afirmando que Renan teve o apoio do senador de oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Depois, de forma reservada, Aziz brincou com colegas e disse que Renan estava “dando mais trabalho” do que os senadores do PT, adversários declarados do presidente Jair Bolsonaro. Ele citou como exemplo o fato de Humberto Costa (PT-PE) “apaziguar” a briga e propor que os fatos fossem encaminhados ao Ministério Público.
Na mesma semana, Aziz também tentou convencer – em vão – Renan a não colocar o número de mortos decorrentes da Covid-19 no lugar da placa de identificação com o seu nome. Renan acatou o que o presidente da CPI disse. Mas, como uma “raposa”, no dia seguinte, recuou e expôs a placa, que vem mantendo até então.
A atitude de Renan vem sendo considerada tão “suspeita” que um dos integrantes da cúpula da CPI chegou a brincar que senadores precisam “meditar” com o emedebista para “acalmá-lo”.
Renan deve estar “empolgado” porque, dentro de uma CPI, ele não está sendo o acusado, mas o acusador. Ele até reconheceu o “erro” e, em entrevista ao jornal O Globo, disse que vai mudar a postura:
“Tenho procurado acertar o tom para não parecer uma coisa além da conta”, disse, sem afirmar se vai manter a palavra.