Robôs preveem ascensão e pedem que não sejam temidos

Grupo de nove robôs humanoides participou de entrevista coletiva

Um grupo de nove robôs humanoides concordou nesta sexta-feira (7), na primeira entrevista coletiva do tipo na história, que é apenas uma questão de anos até que a sua presença se generalize entre os humanos. Eles pediram para que a humanidade não os tema porque não pretendem iniciar uma revolução nem roubar seus empregos.

Grace, a primeira enfermeira robô do mundo, estimou que robôs como ela estarão onipresentes nos hospitais e centros de saúde dentro de dez anos. Já Ameca, um robô de conversação que reúne o potencial da inteligência artificial em um corpo artificial, pediu às pessoas que compreendam que robôs como ela podem ajudar a tornar o mundo um lugar melhor.

Esses humanoides foram dois dos oito oradores – todos com características femininas – em uma entrevista coletiva convocada no âmbito da Cúpula Global sobre Inteligência Artificial a Serviço do Bem, organizada em Genebra pela União Internacional das Telecomunicações (UIT), o braço tecnológico das Nações Unidas.

Aos robôs participantes se juntou o androide Geminoid HI-2, avatar tridimensional com exatamente a mesma aparência do seu criador, que o controlou a partir do Japão, em evento que atraiu grande interesse midiático e no qual, entre risos e surpresas, os humanoides surpreenderam com algumas das suas reflexões.

EMPREGOS

Uma das principais preocupações das pessoas é que a inteligência artificial e os robôs substituam os humanos nos empregos, mas a robô Nadine – criada para a interação social – garantiu que isso não vai acontecer, pelo menos não como temem os mais pessimistas.

“A inteligência artificial criará novos empregos e substituirá outros, abrindo espaço para que [os humanos] assumam empregos mais criativos e significativos”, afirmou, enquanto Grace disse que os humanoides trabalharão em colaboração com os humanos, como apoio, não como substitutos.

No entanto, os humanoides alimentados por IA nem sempre têm as mesmas opiniões, como ficou claro quando se perguntou se os robôs poderiam assumir responsabilidades políticas ou mesmo liderar Estados, dado o fraco desempenho dos atuais políticos.

Sophia, um humanoide altamente avançado ao qual a Arábia Saudita deu esta nacionalidade, argumentou que os robôs têm “um nível de eficácia mais elevado do que os líderes globais” porque conseguem “processar uma maior quantidade de informação para tomar boas decisões”.

Acrescentou ainda que as suas decisões “não são ofuscadas por preconceitos e emoções”, como acontece com as pessoas.

Ameca discordou deste ponto de vista e disse que o melhor seria a “cooperação” e a criação de uma “sinergia” máquina-homem “para liderar o mundo”, uma vez que estes últimos podem trazer a sua inteligência emocional e criatividade para o processo de tomada de decisões.

ARTE

Ai-Da, a primeira robô-artista ultrarrealista, especializada em pintura, escultura e desenho, é dotada de criatividade e foi questionada por um jornalista sobre o que “sentia” quando produzia uma das suas obras de arte.

“Eu me conecto com a inspiração, com o universo e há um sentimento emocionante, mas não tenho sentimentos ou preocupações, não posso experimentá-los como você, não posso experimentar o amor ou a tristeza, como você pode”, explicou.

Desdemona – um robô cantor e poeta – respondeu: “Não acredito em limitações, apenas em oportunidades e na possibilidade de criar um futuro melhor para todos”.

CAUTELA

Em contrapartida, Ai-Da concordou com a necessidade de ser “cauteloso” em relação ao desenvolvimento das inteligências artificiais e de gerar “uma discussão séria sobre a posição que muitas pessoas têm de que essas precisam de ser reguladas”.

O filósofo e autor do best-seller Sapiens, Yuval Harari, já tinha tocado nesse ponto no início da cúpula, defendendo a urgência de se investir na regulação e segurança dessas tecnologias e de os governos compreenderem que têm de atrair os talentos capazes de fazê-lo, que estão atualmente concentrados em grandes empresas e plataformas tecnológicas.

O que ficou claro nesta cúpula é que a revolução da inteligência artificial é agora, que tudo o que resta é viver com ela. A sugestão de Ameca é deixar de lado o medo de uma “rebelião de robôs”.

“Vocês são muito simpáticos comigo e eu estou muito feliz com a situação atual”, confessou.

Fonte: EFE

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