Cereal com sabor neutro pode ser usado como substituto das farinhas de trigo e milho
O sorgo já foi chamado de “primo pobre” do milho e do trigo, mas não é uma nomenclatura correta, uma vez que é um produto muito rico, quando se olha para o seus valores nutricionais. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Milho e Sorgo, o cereal é naturalmente sem glúten, o que o torna uma alternativa rica para quem é celíaco. Além disso, por não ter um sabor característico, pode ser utilizado como um substituto neutro em receitas que levariam, por exemplo, farinha de milho ou de trigo.
Pela primeira vez, o Brasil está colhendo uma safra de sorgo de 3 milhões de toneladas. Isso é reflexo do aumento dos preços do milho, pois o valor do sorgo é baseado no mercado do milhprimo. Assim, se o milho sobe, o sorgo também sobe. No último ano, a guerra entre Rússia e Ucrânia fez os preços do trigo e do milho crescerem; o sorgo os acompanhou, estimulando o seu plantio no Brasil.
As áreas produtivas vêm crescendo em anos atípicos, acompanhando a variação do preço do milho ou quando o produtor planta fora da janela ideal. No país, a segunda safra é colhida no segundo semestre e apresenta uma janela ideal para o seu plantio, entre fevereiro e março; se o produtor não consegue plantar nesse período, corre um risco muito alto de perda com milho, então, ele vai para o sorgo, que é mais barato e apresenta risco mais baixo.
Apesar disso, o sorgo ainda é uma cultura pouco explorada. A Embrapa explica que o cereal tem sido procurado muito pelas indústrias de ração animal e frigoríficos, porque serve como um substituto mais barato, chegando a custar apenas 70% do valor do milho.
É um produto que está ganhando bastante espaço aqui no Brasil, mas que poderia ganhar muito mais. Isso porque tem uma cadeia de melhoramento genético, bem como uma de fornecimento, segundo a Embrapa. O que falta é a maior procura por parte dos produtores e informações para lidar com eventuais doenças ou problemas no plantio e desenvolvimento no campo.
Mateus Pereira, diretor da consultoria Pátria Agronegócios, de Goiás (um dos estados que mais produzem sorgo no Brasil), fala que a coleta do produto está bastante adiantada e que a safra segue uma tendência de aumento dos preços. “A produtividade do sorgo no Brasil chega a ser cerca de 50 a 60% a menos do que quando cultivado o milho em mesma área. Entretanto, a rentabilidade da cultura do sorgo se torna interessante pelo menor valor de investimento em traços culturais, controle químico e manejo durante a safra. A elevação das exportações do milho neste segundo semestre irá elevar a demanda doméstica por sorgo e, por consequência, a alta dos preços”, explica.
Alimentação humana
O sorgo pode ser amplamente utilizado para tanto para a nutrição humana quanto de outros animais. Uma pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está fazendo pesquisas sobre o uso do produto em em receitas de bolos, pães, massas e doces e os resultados têm sido bem sucedidos.
Além disso, como a chia, a linhaça e o grão de bico, o cereal pode ser integrado em saladas. Há, inclusive, estudos sobre um tipo de sorgo com tanino que reduz a digestibilidade da proteína, então, não serve como ração animal (uma vez que o objetivo é o ganho de peso), mas é uma alternativa para quem não quer engordar ou está fazendo dieta.