“Preso político” completa dois meses em ala psiquiátrica após tentativa de suicídio

Completará dois meses que Claudinei Pego da Silva, 43 anos, tentou suicídio dentro do Presídio Papuda, após saber da sua condenação a 17 anos de prisão pelo voto do ministro relator Alexandre de Moraes.

Está difícil resistir a sua interminável prisão, ocorrida após sair de sua cidade para conhecer Brasília.

Claudinei não entende nada de política e foi de carro com um amigo na véspera do 8 de janeiro. Dormiram no carro e ele assistiu tudo de longe, por não gostar de se misturar com tumulto.

Se ele não quebrou nada, então qual foi o “crime” de Claudinei?

Seu erro foi entrar no Palácio do Planalto para chamar o amigo que foi de Minas com ele para Brasília, porque Claudinei achou que aquilo tudo estava se transformando em algo muito perigoso.

O amigo resistiu ao convite de Claudinei para sair do prédio e disse que o Exército Brasileiro protegeria a população. Insistiu para que ficassem no Planalto, pois estariam salvos das bombas e tiros de balas de borracha.

O resultado desse passeio à Capital Federal foi a longa prisão, a informação da condenação e, em 9 de dezembro, Claudinei tentou se matar.

Dez dias depois foi transferido para a Ala de Tratamento Psiquiátrico (ATP), localizada dentro do Presídio Colmeia, onde permanece até hoje, fazendo uso de fortes medicações.

LUGAR INSALUBRE

“A ala psiquiátrica é horrível, tem cheiro ruim e muita gente doida lá dentro. Se eu ficasse um tempo ali dentro, com certeza surtaria. Desde que o meu marido foi para essa ala, fui somente duas vezes visitar. Sair de Belo Horizonte para Brasília é muito caro para mim. Eu trabalho como faxineira e ganho salário-mínimo, e é a única renda da nossa família”, relata a esposa Priscila Kellen Oliveira, 33 anos, que está morando na casa da mãe em Belo Horizonte, MG, desde que a vida da família foi dilacerada com a prisão de 8 de janeiro.

Priscila tenta se manter forte para conseguir trabalhar e cuidar do filho. A casa em Vespasiano, MG, segue fechada e a vida transcorre num alto e baixo emocional.
“Não existe nada contra ele, nem uma imagem de câmera. Ele está preso injustamente. Meu marido está perturbado, não está bem, está tomando remédio controlado por uma profunda depressão que adquiriu lá dentro. Ele entrou no presídio com 115 kg e estava fazendo uma dieta em função de tratamento de obesidade. Mas lá dentro ele perdeu 42 kg de uma forma que não é normal”, relata.

Conforme a esposa, a tentativa de suicídio ocorreu após ele ser transferido para uma área isolada do presídio, chamada “corró”. Ele colocou a camiseta ao redor do pescoço e armou uma forca improvisada, mas foi impedido por um policial que conseguiu abrir a porta a tempo, diante dos gritos de outra policial que não estava conseguindo socorrer sozinha.

FAMÍLIA DESESTRUTURADA

O casal tem um filho chamado Gabriel, de 5 anos. Antes de ser preso, Claudinei trabalhava em sua própria oficina fazendo pintura e chapeação de veículos. Ele sempre foi trabalhador, honesto e nunca se meteu em problemas. É réu primário.

Além de Gabriel, Claudinei tem outros três filhos, sendo dois deles menores também, de 11 e 12 anos, e tem o compromisso de pagar a pensão. Conforme documento da Associação dos Familiares das Vítimas de 8 de Janeiro (ASFAV), as crianças estão abaladas psicologicamente e a família passa necessidades financeiras.

Claudinei não tomava medicações antes da reclusão e hoje está tomando 14 comprimidos ao dia. A médica psiquiatra sugere a volta de Claudinei para o seio da família e do convívio com os amigos para enfrentar o quadro depressivo em que se encontra.

PEDIDO DE LIBERDADE

Em 9 de outubro do ano passado, a Procuradoria Geral da República (PGR) deu parecer favorável para soltura dele. Claudinei, no entanto, não foi para casa porque o STF manteve a sua prisão, por falta de despacho de Alexandre de Moraes.

Em 15 de dezembro, a defesa solicitou a prisão domiciliar do acusado devido a atitude de tentativa de autoextermínio, bem como tratamento psíquico imediato, para que não ocorresse o pior. Com o julgamento proferido no mesmo dia, o Ministro decidiu manter a prisão preventiva, mas determinou a transferência deste para uma unidade hospitalar psiquiátrica a fim de estabilizar a situação. A informação foi repassada pela advogada Ana Maiara Ribeiro da Silva.

Por Ana Maria Cemin

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