Por mais que os cientistas se esforcem ao máximo para tentar sanar todas as dúvidas que temos, nem tudo pode ser explicado cientificamente. E de tudo aquilo que ainda permanece sendo um grande mistério, a morte certamente é uma das coisas que mais intrigam a todos nós.
No vídeo de hoje, nós vamos falar sobre um fenômeno popular entre quem costuma acompanhar pessoas em situações terminais. Então fique conosco e entenda por que, afinal, algumas pessoas parecem ter uma melhora significativa pouco antes de falecer.
Converse com alguém que trabalha ou já trabalhou com pacientes em estado terminal, e provavelmente você vai ouvir histórias incríveis. Seja de pessoas que melhoraram quando todos já davam seu caso como perdido, seja de pacientes que infelizmente faleceram quando tinham tudo a seu favor. Mas existe na literatura médica uma série de casos semelhantes, que dão conta de uma súbita melhora em pacientes terminais, acompanhada pelo falecimento do paciente. Ao longo da história este fenômeno curioso já teve diversos nomes diferentes, como “lucidez paradoxal”, “lucidez terminal” ou até mesmo nomes mais emotivos como “o último raio de Sol”, em uma tradução livre de um termo em chinês.
Mas ainda que a ciência reconheça este fenômeno ao longo da história da medicina, ainda não se sabe exatamente por que ele acontece. Esse mistério é tão antigo que até mesmo Hipócrates, o pai da Medicina, já verificava a sua existência quatro séculos antes do nascimento de Cristo. Ele, junto com outros gregos da sua época, acreditavam que durante a morte a alma era libertada das suas amarras materiais, recuperando o seu potencial máximo. De forma resumida, o que Hipócrates dizia é que, pouco tempo antes de morrer, a alma atingia novamente o seu clímax, deixando para trás tudo aquilo que estava fazendo com que ela sofresse.
De lá para cá, uma infinidade de casos já foram registrados. Em muitos deles, pacientes já tomados por doenças terminais acabam recuperando a lucidez, demonstrando uma substancial melhora em seus sintomas. Felizes, muitos familiares começam a acreditar que seus entes queridos podem estar melhorando, e talvez possam até mesmo se recuperar totalmente. Mas isso acaba não acontecendo.
Hoje em dia existem muitas hipóteses que tentam explicar o fenômeno, mas nada foi comprovado até o momento. Alguns acreditam, por exemplo, que trata-se de um mecanismo de sobrevivência, natural do ser humano, enquanto outros defendem que são oscilações normais e totalmente provenientes do acaso.
É bastante difícil estudar estes casos por conta das várias questões éticas que surgem nestas pesquisas. Porém, nos raros ensaios científicos que abordaram este misterioso fenômeno, os pesquisadores apontam que é normal haver oscilações de consciência em pacientes que sofrem com demência em doenças terminais. No entanto, alguns casos fogem à normalidade, devolvendo à plena consciência a pacientes que já não contavam com praticamente nenhuma capacidade de comunicação.
Um estudo feito em 2009 por pesquisadores da Virgínia, nos Estados Unidos, analisou 49 casos que se encaixam neste fenômeno. A pequena amostragem não permitiu, obviamente, conclusões aprofundadas, mas ela nos ajuda a entender melhor o que, de fato, a ciência sabe sobre a chamada lucidez terminal. Dos 49 casos, 43% envolviam pacientes que tiveram melhoras súbitas um dia antes da morte, enquanto 41% dos pacientes melhoraram de 2 a 7 dias antes de morrer e, 10%, de 8 a 30 dias.
Outro estudo, feito em 2018, apontou que normalmente, nestes casos, há uma liberação de adrenalina e outras substâncias que provocam alterações no corpo. Essas alterações são responsáveis pelo aumento na frequência cardíaca e pressão arterial, o que consequentemente melhora o funcionamento de outros órgãos. Isso poderia explicar a lucidez repentina. Para alguns pesquisadores, essa liberação de adrenalina poderia ser uma reação do corpo ao perceber que a morte está se aproximando. Mas esta teoria ainda não foi comprovada. Supostamente, o corpo faz de tudo para recuperar seu potencial máximo, mas quando seus recursos se esgotam, ocorre a morte inevitável.
Há, também, obviamente, aqueles que tentam explicar estes episódios a partir da ideia religiosa. É o caso de um grupo de professores de Estudos Religiosos da Universidade da Califórnia. De acordo com eles, a lucidez terminal tem sua origem na alma, e teoricamente ocorre quando a consciência do ser consegue se desprender totalmente do cérebro, funcionando de forma independente ao sistema nervoso.
Teorias à parte, a maioria dos cientistas acredita que a lucidez terminal é mais um fruto daquilo que conhecemos como fenômeno do viés de confirmação. Trata-se de uma tendência que temos de sempre procurarmos por novas evidências que sirvam para comprovar aquilo em que acreditamos. Segundo os pesquisadores, muitos estudos dizem que as pessoas tendem a pesquisar, prestar atenção e se lembrar de coisas que validem suas próprias crenças, e isso pode ajudar a explicar por que a chamada lucidez terminal acabou se tornando um assunto tão comentado.
Em suma, o fato dessas histórias serem marcantes e emocionantes faz com que elas fiquem gravadas na memória, causando a impressão de que casos assim são muito mais comuns do que realmente são.
De qualquer forma, a lucidez terminal continua sendo um tema muito discutido dentro dos hospitais, e é um assunto recorrente entre aqueles que trabalham com pacientes que convivem com doenças graves.