Por que a Europa está sendo tão castigada pelo calor?

Condições atmosféricas e correntes marítimas, além do aumento da temperatura média global, explicam o fenômeno

A Europa está um forno. Literalmente. O continente, que vive uma canícula sem igual, está ladeado por inúmeros incêndios florestais e pela seca extrema decorrentes do quê? Das altíssimas temperaturas. Ou seja, é calor em cima de calor, um verdadeiro inferno.

A desordem climática começou em maio, o mais quente em cem anos na França e em Portugal, e seguiu se alastrando por outros países, quebrando recordes. Em junho, foi a vez da Itália, da Espanha, da Alemanha e da Suíça, com cidades registrando entre 36,9°C e 43°C. Depois, alcançou a Polônia, outros locais ao leste e, agora, castiga o Reino Unido. Nesta terça-feira, 19, o país teve o dia mais quente da história, de acordo com três séculos de registros meteorológicos disponíveis, com temperaturas acima de 40°C.

Os cientistas afirmam que calor infernal e persistente deste ano não vem de hoje: há pelo menos quatro décadas que as temperaturas na Europa vêm aumentando em frequência, intensidade e velocidade muito maiores do que em qualquer outra parte do planeta, como revelou um estudo liderado pelo pesquisador Kai Kornhuber, do Observatório Terrestre Lamont-Doherty, da Universidade Columbia, publicado na Nature, no início do mês.

Alterações nas condições atmosféricas e nas correntes marítimas explicam parcialmente o fenômeno. Os pesquisadores descobriram, por exemplo, que muitas ondas de calor na Europa ocorrem quando a corrente atmosférica se divide temporariamente em duas, deixando uma zona de ventos fracos e alta pressão no meio.

Há outra justificativa, mais abrangente: a elevação das temperaturas no planeta. Seja em decorrência das ações do homem, como defendem os ambientalistas mais à esquerda do espectro ideológico, ligados ao IPCC, o painel climático da ONU, ou devido um ciclo natural de aquecimento e resfriamento do globo, como propõem os chamados cético do clima, na outra ponta, o fato é que a Terra 1,1ºC mais quente do que na segunda metade do século 19.

Alguns cientistas acreditam que esta é a raiz do problema, já que este aumento interfere e altera os parâmetros e os padrões climáticos em geral. Por exemplo, com o derretimento das geleiras, no Polo Norte, a diferença de temperatura entre o Ártico e do Equador diminui, o que torna os ventos de verão menos frequentes, impedindo que o calorão europeu se dissipe.

Também há suspeitas de que mudanças em uma das maiores correntes oceânicas do mundo, conhecida como circulação meridional de capotamento do Atlântico, por conta da elevação da temperatura do planeta, afete o clima da Europa.

Outro trabalho publicado no ano passado usou simulações para mostrar que, com o mundo mais aquecido, a corrente perde força, o que muda a circulação atmosférica e torna os verões europeus mais secos.

Uma onda de calor pode ser definida quando a temperatura supera em 2 graus Celsius ou mais o valor médio registrado em três décadas e se mantém por alguns dias. Pelas previsões, os europeus terão de enfrentar mais algumas ondas pela frente. Ainda faltam dois meses para o verão no Hemisfério Norte acabar.

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