Por onde anda o Sleeping Giants

Depois de mais de um ano ‘cancelando empresas’, a organização de vigilantes digitais busca dinheiro para se tornar uma instituição ‘do bem’

A versão brasileira do Sleeping Giants Brasil (SGBR), que até pouco tempo não tinha cara, ostenta uma página na internet onde divulga cifras vultosas indicando a desmonetização de empresas que, segundo o viés do grupo, espalham a desinformação pelo país. A contagem já superou R$ 21,8 milhões.

O modus operandi da organização de vigilantes digitais é baseada em tentar impedir que as mídias programáticas (um formato de publicidade digital elencada pelo Google com base em visibilidade e cliques) sejam veiculadas nas páginas das empresas na internet que promovem, na visão do grupo, fake news. Na maioria esmagadora dos casos, os alvos preferidos são sites considerados de direita ou com pensamento conservador.

O grupo monitora as páginas que possuem maior quantidade de visibilidade para definir se entram ou não na mira da polícia digital. A partir daí, caso exista alguma publicação que vá contra o pensamento ideológico proposto por eles, os vigilantes entram em ação.

Quem está por trás do Sleeping Giants

O movimento foi criado em maio do ano passado. Até dezembro, o perfil no Twitter atuou de forma anônima, até o casal Leonardo de Carvalho Leal e Mayara Stelle, ambos de 22 anos, moradores de Ponta Grossa (PR), revelarem ser os criadores da versão brasileira da organização depois de uma ação movida contra eles na Justiça.

Até maio deste ano, ao todo, 990 empresas foram cobradas a se manifestar sobre a presença de anúncios em sites apontados pelo Sleeping Giants. Depois das pressões exercidas por uma rede de aproximadamente de 470 mil seguidores, cerca de 800 se comprometeram a retirar as publicidades dos portais. Entre elas estão companhias como Bradesco, Adidas, Ford, Fiat, Uber e Amazon.

“Olá @amazonBR, tudo bem? Poder comprar um pouquinho de tudo no seu app é ótimo, mas não é legal encontrar seus anúncios em um canal no @YoutubeBrasil que incentiva o ódio e a desinformação. Será que a Alexa pode nos ajudar nisso? Pfv BLOQUEIEM.”

Recentemente, a página no Twitter tem se dedicado a reproduzir conteúdos que alimentam a bolha de seguidores. Há ataques aos grupos denominados “antivacina” ou “negacionistas” e o compartilhamento de memes investindo contra aqueles que se posicionam desfavoravelmente à organização. Um dos alvos foram o jornalista Allan dos Santos e o colunista da Revista Oeste Rodrigo Constantino.

Ao que tudo indica, o SGBR atingiu o objetivo principal em um ano e seis meses de fundação: ganhou visibilidade. Agora, já planeja alçar novos voos para monetizar o que os membros chamam de “objetivos grandiosos”.

“Nós queremos ter uma equipe. Por isso, vamos tentar uma nova fonte de recurso, pois a limitação financeira é uma barreira muito grande”. É o que explicou o diretor jurídico do Sleeping Giants Brasil, Henrique Ribeiro, em entrevista ao programa Giro Nordeste.

Ele ainda afirmou que o SGBR está enfrentando uma “série de assédios judiciais” que, segundo ele, “tentam impedir que o trabalho continue, cerceando nossa liberdade de se manifestar”. O movimento que diz “atacar uma forma de financiamento da desinformação” experimenta as consequências da militância que tem exercido há mais de um ano.

A reportagem de Revista Oeste tentou entrar em contato com os fundadores do movimento, mas não obteve retorno.

Na mira da vigilância

Em 14 de novembro, o SGBR comemorou nas redes sociais a desativação do canal Terça Livre, mantido por Allan dos Santos. “Hoje completa sete anos, quer dizer, completaria. Foram quase sete anos desinformando, que só acabou quando foi desmonetizado.”

No dia 9 de novembro, o movimento debochou do site Renova Mídia. “Mais um site de desinformação fecha as portas”. A frase segue com um emoticon de gargalhada. O Renova Mídia, em nota, comunicou que saiu do ar depois de seis anos por falta de segurança jurídica no Brasil. “O Google reduziu em mais de 90% o retorno financeiro com mídia programática”, informou.

O fundador do portal Tarciso Morais disse a Revista Oeste que os ataques começaram depois que o site foi citado na Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19. “O Sleeping Giants agiu na surdina contra a Renova Mídia”, afirmou. “Recebi informações de fontes seguras que eles entraram em contato com representantes no Brasil das big techs para ampliar a desmonetização da Renova e o cerceamento da propagação do conteúdo”, acrescentou Morais.

Ele ainda afirmou que desde o início dos ataques, as receitas do portal com mídia programática despencaram e a influência do portal nas redes sociais teve uma queda “gigantesca”. Para Morais, o Sleeping Giants é “uma iniciativa que vive apenas com o intuito de prejudicar empresas.”

Não para por aí

Outro caso emblemático foi o centenário jornal Gazeta do Povo, diário com sede em Curitiba, que no final do ano passado foi alvo dos vigilantes digitais. Os anunciantes do jornal foram pressionados a cortar as publicidades. Pelo menos duas dezenas prometeram suprimir os anúncios, com medo de começarem a receber ataques da organização no Twitter.

Depois de “abrir caminho” na rede mundial de computadores derrubando portais e canais apontados contrários ao que o movimento entende como “bom jornalismo”, o SGBR tenta ganhar terreno e conquistar espaço entre as militâncias. Entretanto, descobriu que sem recursos pouco se faz. No ano passado, a organização realizou um crowdfunding — um financiamento coletivo para captar dinheiro. Agora, abriu um espaço no próprio site para receber doações de pessoas físicas ou jurídicas.

Com a monetização no foco para financiar a plataforma e seus membros, agora, o SGBR acredita que poderá ditar as regras do debate público. “Acredito que às vésperas de uma eleição precisamos resolver o problema da desinformação para que o debate seja mais saudável para as pessoas conversarem de forma amigável”, sugeriu o diretor jurídico do Sleeping Giants.

O mesmo ódio que o grupo semeia entre sua bolha para perseguir empresas, com likes, tweets, pressões e ameaças contra os ditos conservadores, agora, surge como solução para um debate “amigável”.

Fonte: Revista Oeste

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