Juros da operação variam, por isso, é mais recomendado usar cartão de crédito, desde que parcelas estejam em dia
Somente nos primeiros 10 dias de junho, o Pix movimentou mais de R$ 270 bilhões, enquanto o valor de TEDs feitos no período foi de aproximadamente R$ 956 milhões, segundo dados do Banco Central. Cada vez mais frequente na vida dos brasileiros, essa forma de pagamento vem ganhando novas alternativas. Esse é o caso do Pix parcelado, que facilita a compra de bens, mas traz risco de endividamento, já que operação pode ter juros.
Nessa nova modalidade, a pessoa ou empresa para quem foi enviado o Pix recebe o valor integral de forma instantemente, mas quem envia o dinheiro parcela a quantia paga. Existem dois tipos de Pix parcelado: um atrelado ao cartão de crédito e outro com uma linha separada de crédito, nesse caso não é usado o limite do cliente.
Larissa Brioso, educadora financeira e líder de conteúdo na Mobills, startup de soluções para finanças, ressalta que em “ambos os casos há uma cobrança de taxa pelo uso dessa modalidade”. O Pix parcelado funciona como um crédito, então, normalmente, os juros chegam a ser entre 2% e 3%, mas o percentual e até a existência de uma taxa podem variar de acordo com cada instituição e número de parcelas. Os valores variam ainda para o cliente que faz a transferência e o estabelecimento que oferece essa forma de pagamento.
Mas, como Pix parcelado ainda não é uma operação oficial do BC (Banco Central), as taxas e regras de contratação variam entre as instituições. O Pix garantido, pagamento em formato semelhante, já era para ter sido lançado oficialmente.
Sem previsão para começar a funcionar, a forma de pagamento desenvolvida pelo BC permitiria parcelar transações sem precisar ter saldo na conta, assim como o cartão de crédito. O consumidor poderá agendar o pagamento, mas, se não houver dinheiro no banco na data determinado, a pessoa fica devendo para a instituição.
Segundo Gabriel Lacombe, chefe de operações da instituição de pagamento Koin, essa nova modalidade usada atualmente é “no fundo uma operação de CDC (Crédito Direto ao Consumidor) ou um financiamento no ponto de vendas, em que uma fintech recebe os dados daquele cliente e analisa dos dados daquele cliente para ver o risco de crédito e de fraude.
Depois o cliente é aprovado, ou não, para contratar um determinado número de parcelas. A financeira manda todo mês um pix ou boleto para que seja feito o pagamento da parcela”, explica.
O Pix parcelado, até o momento, é usado normalmente para emergências e quando a pessoa não tem cartão de crédito, não quer comprometer ou não tem limite. “O financiamento de operações no ponto de venda é muitas vezes a única maneira que o cliente tem para comprar um produto ou um serviço de maior valor. Essa modalidade facilita o acesso a bens e serviços.
Na mesma hora, o cliente compra, paga e recebe o seu produto”, afirma o diretor de operações da Koin. Segundo a empresa, 34 milhões de brasileiros não têm conta em banco.
Pix parcelado x cartão de crédito
Para Lacombe, o pix parcelado não chega a ser ainda uma concorrência ao cartão de crédito, mas um complemento. “Se é melhor que cartão de crédito depende. Muitas vezes é a única forma. São meios de pagamento que se complementam, não são substitutos. O cartão de crédito tem algumas vantagens em relação ao pix parcelado, porque normalmente também em uma transição parcelada não é cobrado juros do cliente e existem cartões com programa de pontos para compras de passagens e produtos”, destaca.
“O que acontece é que, se na hora de pagar o cartão de crédito o cliente se enrola e entra nos juros rotativos do cartão, ele terá uma taxa de juros entre 7% a 10% ao mês. Caso não pague uma parcela no Pix parcelado, ele irá pagar entre 2% a 4%”, completa Lacombe.
As taxas oferecidas pelas financeiras devem ser comparadas e a situação analisada, mas na maioria das vezes é mais vantajoso utilizar o cartão de crédito. “Ao optar pelo Pix parcelado há uma cobrança de taxa, como um empréstimo. Com uma boa organização financeira, é possível parcelar compras, ganhar benefícios, deixar o dinheiro rendendo enquanto não chega a data de pagamento da fatura e não pagar taxas por isso, como a anuidade do cartão. O Pix parcelado envolve o pagamento de taxas, geralmente elevadas. Mas dependendo do perfil do consumidor, essa modalidade pode custar menos que alguns empréstimos”, afirma Brioso.
Pix parcelado é um facilitador, mas ajuda no endividamento
Segundo o diretor de operações da Koin, o cenário atual ajuda na expansão do Pix parcelado. “Com juros e inflação altos, o orçamento das famílias acaba sendo comprimido, seja porque a capacidade de compra ficou menor ou porque uma dívida de um financiamento está pegando grande parte da renda. A pessoa tem mais dificuldade em comprar coisas que de fato necessita, pagar um produto ou um serviço e à vista. Então, o Pix parcelado passa ser ainda mais uma possibilidade”, analisa.
A educadora financeira Larissa Briosa reforça que o parcelamento pode ser vantajoso em período de juros altos, mas é preciso ter organização financeira. “Parcelar em um cenário de juros elevados permite deixar o dinheiro aplicado em uma conta que rende pelo menos 100% do CDI com alta facilidade de resgate, por exemplo. Do contrário, os parcelamentos poderão gerar o endividamento devido às altas taxas de juros envolvidas no atraso do Pix parcelado e do cartão”, explica.
O uso do Pix parcelado é arriscado, principalmente, para pessoas negativadas ou que já estouraram o limite do cartão de crédito. Ao recorrer com frequência à operação, há mais riscos de o cliente pagar juros desnecessários.
Por outro lado, os juros altos também tornam mais arriscado fazer parcelamentos e financiamentos. “Na atual conjuntura do país, qualquer operação desse tipo, com a Selic elevada, deverá ser estudada com muita atenção, visto que talvez não seja um bom momento para se contratar empréstimos e financiamentos. Normalmente, as empresas e pessoas físicas buscam tais modalidades em situações de necessidade. Portanto, caso seja essa a situação, indico um estudo das propostas que serão apresentadas pelas instituições financeiras. Não devemos pensar apenas se a parcela caberá no orçamento e sim quanto de juros iremos pagar no final do contrato. Acredito que sempre devemos buscar fazer as nossas compras à vista”, orienta Anderson Daniel, coordenador do curso de Ciência Contábeis da UniCarioca.