O Brasil tem 33 partidos políticos, você já ouviu falar de outro partido que tivesse ligações tão recorrentes com uma facção criminosa?
Existem duas áreas muito rentáveis e perigosas de se trabalhar na Grande São Paulo: a limpeza e transbordo de lixo urbano e o transporte de passageiros – vários empresários e sindicalistas dessas áreas já foram assassinados. O caso mais emblemático foi o do prefeito petista de Santo André, Celso Daniel que à época acumulava as funções de coordenador da campanha presidencial de Lula. Na raiz daquele crime estava a corrupção envolvendo empresas de ônibus de transporte urbano.
Dessa vez é o vereador Senival Moura (PT) que é investigado por suspeita de envolvimento na morte de um ex-diretor da empresa de ônibus Transunião, que possui contrato com a Prefeitura de São Paulo para operar 50 linhas na capital. O parlamentar nega a acusação.
Nesta quinta-feira (9), a Polícia Civil fez uma operação contra responsáveis da companhia. Eles são suspeitos de homicídio, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Treze ônibus da Transunião foram apreendidos e levados para a sede do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
O ponto de partida da investigação foi o assassinato de Adauto Soares Jorge, ex-diretor financeiro da Transunião. O crime aconteceu no estacionamento de uma padaria no bairro do Lajeado, na Zona Leste, em março de 2020. A apuração dos policiais indica que Adauto seria “testa de ferro” do vereador Senival Moura na direção da empresa, que seria utilizada para a lavagem de dinheiro de membros do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Nesta quinta, policiais prenderam o principal suspeito do assassinato. Jair Ramos de Freitas, conhecido como “Cachorrão”, que foi apontado pela polícia como o autor dos disparos. No dia do crime, a vítima foi levada por Devanil Souza Nascimento, conhecido como “Sapo” – motorista do vereador – para a padaria. Denival Sousa Nascimento também foi preso.
E o PT não pode alegar que ‘não sabia’ das ligações de Senival com o PCC. Porque em 2014, um irmão de Senival – o então deputado estadual pelo PT, Luiz Moura, foi expulso do partido por participar de uma reunião com líderes do PCC. O detalhe é que na época Senival já era investigado pela Polícia Civil e o Ministério Público de SP. Questionado, em 2014, sobre a não expulsão de Senival do PT, o então presidente estadual do partido, Emídio de Souza, respondeu assim a reportagem do UOL:
“Não tem nada a ver uma coisa com outra. Senival é sócio de uma cooperativa. Não há elementos contra ele. O (deputado) Luiz Moura foi acusado de participar de uma reunião com o PCC. O tempo passou e ficou provado que tinha sim a ver uma coisa com outra”.
O Brasil tem 33 partidos políticos, você já ouviu falar de outro partido que tivesse ligações tão recorrentes com uma facção criminosa? Nunca ficou tão claro o diálogo tido entre líderes do PCC presos, gravado pela Polícia Federal em agosto de 2019. Ouçam as palavras de Elias o Véio, um dos líderes da facção criminosa:
“Ele começou a atrasar quando foi para cima do PT. Pra você ver, o PT com nóis tinha diálogo. O PT tinha diálogo com nóis cabuloso, mano, porque… situação que nem dá para nóis ficarmos conversando a caminhada aqui pelo telefone. Mas o PT, ele tinha uma linha de diálogo com nóis cabuloso, mano”.
Realmente as relações do PT e do PCC são cabulosas.
Por Eduardo Negrão | Consultor político e autor de “Terrorismo Global” e “México pecado ao sul do Rio Grande” ambos pela Scortecci Editora