Mulher morre picada por naja, em plano “diabólico” do marido

Kumar forçou as presas do réptil contra o braço da esposa enquanto ela dormia

“Diabólico e mendonho”. Foi dessa forma que o juiz indiano M. Manoj descreveu o caso por trás da morte de uma jovem de 25 anos, no estado de Kerala, no sul da Índia. Encontrada pela família já morta em casa, Uthra foi levada a um hospital de Kollam, e os documentos de autópsia confirmaram que ela havia sido picada por uma naja indiana altamente venenosa. O verdadeiro assassino por trás do caso, porém, era outro: o marido da jovem, Suraj Kumar.

Apesar de picadas de cobra serem comuns na Índia, a família de Uthra não se conformou com a explicação, pois a jovem havia sofrido um outro ataque de serpente em 2019. Desconfiados, eles decidiram registrar queixa na polícia, que após apurar os acontecimentos concluiu que o marido de Uthra havia comprado as cobras e forçado os animais a picarem a esposa.

Suraj e Uthra casaram-se em março de 2018, após se conhecerem por meio de um serviço de corretor matrimonial. A família da moça queria achar um marido que cuidasse dela, pois a jovem possuía “dificuldades de aprendizagem”.

“Queríamos encontrar alguém que a fizesse feliz. Ela era um pouco diferente, tinha dificuldades de aprendizagem. Queríamos um homem que pudesse cuidar dela”, explicou o irmão de Uthra, Vishu, à CNN.

Kumar, por sua vez, casou-se com a moça visando “obter ganhos financeiros”, segundo o julgamento. Como dote, recebeu 720 gramas de ouro, um sedã Suzuki, 500 mil rúpias (o equivalente a de R$ 37 mil), além de 8 mil rúpias mensais (R$ 600) para cuidar da jovem. Ao longo da união, a família do rapaz exigiu outros benefícios, como eletrodomésticos, móveis, carro, reformas da casa e até mesmo o pagamento de um curso para a cunhada de Uthra.

“Uthra era uma pessoa que nunca via mal em ninguém. Sua dificuldade de aprendizagem fazia com que ela não tivesse como perceber que estava sendo usada”, detalhou Vishu.

Segundo os autos, o casal chegou a ter um filho no primeiro ano do matrimônio. Em determinado momento, porém, Kumar começou a se sentir “insatisfeito” com o casamento e iniciou planos para executá-la.

TENTATIVAS E HOMICÍDIO

A primeira tentativa de assassinar a jovem veio em 2019. Kumar passou a fazer amplas pesquisas sobre cobras, e, secretamente, comprou uma víbora de Russel, uma das mais agressivas da Ásia.

Ele pôs o réptil na escada de sua casa e pediu a esposa que descesse até o primeiro andar para lhe fazer um favor, esperando que a cobra a picasse. Uthra, porém, viu a serpente e gritou por ajuda. Kumar capturou o animal, e, escondido, guardou o réptil em um saco plástico, para dias depois voltar a tentar matar a esposa.

Na noite de 2 de março, Kumar sedou Uthra e, enquanto a jovem dormia, forçou a serpente a mordê-la. Apesar de ter levado a vítima a perder os movimentos das pernas e permanecer 52 dias internada, a picada não foi fatal.

Apenas 15 dias após a jovem deixar o hospital, Kumar fez uma nova tentativa de assassinato, dessa vez com uma naja. Na casa dos sogros, o rapaz sedou a moça novamente antes de irem para a cama, e enquanto ela dormia, atirou o réptil sobre ela. A naja, porém, não quis morder Uthra, e Kumar teve que forçar as presas da serpente contra o braço esquerdo da esposa duas vezes.

As investigações a pontaram que as picadas não eram naturais devido à largura das marcas dos dentes, que eram de 2,3 e 2,8 cm. As presas de uma naja, porém, medem apenas 0,4 a 1,6 cm, segundo especialistas. O horário e as circunstâncias da picada também levantaram suspeitas.

“Najas normalmente não mordem, a menos que sejam muito provocadas. E, depois das 20h, elas geralmente estão adormecidas”, ressaltou Hari Shankar, inspetor-geral adjunto da Polícia de Kerala.

Os investigadores apontaram ainda que a cobra não poderia ter entrado na casa sozinha, pois só conseguiria se erguer a uma altura de 50 cm, o que era insuficiente para alcançar a janela.

Kumar não admitiu ser culpado, mas o juiz M. Manoj o condenou a duas prisões perpétuas, por quatro crimes, incluindo tentativa de homicídio e assassinato.

COMPARTILHAR