Nesta quarta-feira, 16, a cuidadora de idosos Bruna França Sobral, de 38 anos, concedeu uma entrevista onde relatou o terror que vive após ficar com o glúteo esquerdo deformado após receber uma injeção em um pronto-socorro de Santos, no litoral de São Paulo. A mulher diz que acabou desempregada devido as fortes dores que sentia, mas que ainda permanece indignada e abalada com a situação. O caso segue sob investigação.
Bruna relata que trabalhava como cuidadora de idosos, e no início deste ano, no dia 7 de Janeiro, ela foi até uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) após sentir um pouco de falta de ar: “Fiquei com medo de ser covid. Mas lá, não constou febre nem nada, disseram que eu tinha asma, sendo que tenho 38 anos e nunca havia sido diagnosticada na minha vida. Então, o médico me receitou um corticoide na nádega”, afirma. Porém, logo após a enfermeira aplicar a medicação, ela sentiu ardência no local: “Antes de ela aplicar, eu perguntei ‘você não está aplicando muito abaixo?’, e ela me respondeu ‘você quer fazer?’. Então, fiquei quieta. O atendimento é desumano por parte de algumas pessoas ali”, afirma.
Após isto, ela voltou para casa e passou o dia da aplicação e o dia seguinte com uma dor forte, que aumentava progressivamente. Além disso, ela conta que o glúteo foi inchando e ficando cada vez mais vermelho. Ao perceber a piora, ela decidiu retornar à UPA e foi receitada com outra medicação, uma benzetacil, mas desta vez no outro glúteo: “Não adiantou nada, e só foi piorando e criando pus. Fui a semana inteira na UPA, e em nenhum momento nenhum médico pediu exame de sangue”, afirma.
Bruna conta que após não aguentar mais de dor e febre, decidiu procurar atendimento particular, e neste outro hospital, foi solicitado exame de sangue, e ela foi internada em seguida: “A médica do hospital particular disse que eu estava com uma infecção grave, e também precisaria tomar remédio intravenoso. Eu consegui ficar alguns dias no hospital, mas não teria dinheiro para pagar mais dias, então, fui liberada para terminar o tratamento em casa”, conta. Porém, após o atendimento particular, ela teve que retornar à UPA devido as fortes dores: “Ardia, eu gritava, era uma dor muito forte, que eu não aguentava mais. Quando o ferimento abriu, eu voltei à UPA, porque não tinha mais dinheiro para retornar no particular. Fiz mais exames, depois, fui no posto de saúde, e lá fui orientada sobre o tratamento adequado, que teria pelo SUS, e comecei a encontrar pessoas que me ajudaram na Policlínica (outro hospital público, de referência)”, conta.
A paciente conta que ainda está fazendo acompanhamento médico, e aguarda retorno em consulta para saber seu estado de saúde, mas que o último ultrassom apontou que há um cisto e líquido presente na área infeccionada: “Meu bumbum, do lado esquerdo, parece que está amassado, está com uma cicatriz horrorosa. Eu até perdi o emprego, porque não aguentava ir trabalhar com dor. Isso não é justo, o nosso sistema de saúde pública precisa melhorar. Ainda estou muito abalada e indignada”, declara.
Em nota, organização social responsável pela gestão da UPA que atendeu Bruna informou que a paciente deu entrada no local no dia 7 de janeiro, relatando falta de ar há três dias e fazendo uso de medicamentos, sem melhora e que fez outros atendimentos após esta data. No entanto, a instituição cita que “Não é possível afirmar que a lesão evidenciada em fotos seja por erro no procedimento de aplicação do medicamento”, completa a SPDM.
A Secretaria de Saúde de Santos informou que a paciente está sendo acompanhada pela Policlínica do Morro José Menino e que realizou curativo entre os dias 28 de janeiro e 15 de fevereiro, com duas sessões de laserterapia. Além disso, ela possui retorno agendado para 23 de março, mas que a policlínica se coloca à disposição da paciente, caso seja necessário antecipar a consulta.
Entenda os riscos
De acordo com o infectologista Evaldo Stanislau, dentre as possibilidades que podem ter causado a infecção na paciente está um problema na técnica de aplicação da injeção: “Eventualmente, você pega uma estrutura vascular, tem um pequeno sangramento, uma coleção (termo técnico para acúmulo de líquido ou sangue no local) que se forma ali, e isso evolui com uma necrose do tecido, com um processo inflamatório regional, e pode evoluir com uma infecção secundária”, afirma.
Porém, Stanislau diz que outra possibilidade é que tenha ocorrido uma contaminação grosseira na hora da aplicação, devido uma técnica também inadequada no momento de aplicar a medicação: “E essa contaminação durante a aplicação pode ter levado a esse quadro local. E a terceira possibilidade é de algum problema com a medicação que leve a uma necrose dos tecidos, à formação de um abcesso no local e essa evolução”, explica.
Ele explica que o tratamento da infecção é feito com cuidados locais de higiene, calor e medidas anti-inflamatórias: “Dependendo da extensão, a drenagem e a remoção de todo esse tecido desvitalizado, e o uso de antibióticos sistêmicos. Se for um paciente imunodeprimido, idoso, dependendo da extensão e das áreas comprometidas, isso pode levar a outras complicações secundárias, tanto no local quanto sistêmicas, que eventualmente tem até uma gravidade”, conclui.