Para apoiar Lula na corrida presidencial, o MST vem criando “comitês populares de luta” em todo o país
Principal líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), João Pedro Stedile prevê o retorno de “mobilizações de massa” caso o ex-presidente Lula saia vitorioso das eleições de outubro. As declarações de Stedile foram feitas em um podcast divulgado na página do movimento na internet.
Para o público eventualmente pouco afeito ao vernáculo do movimento, Stedile traduziu: “É quando a classe trabalhadora recupera a iniciativa na luta de classes, então ela passa a atuar na defesa de seus direitos da mínima forma, fazendo greves, fazendo ocupações de terra, ocupações de terreno, mobilizações, como foi naquele grande período de 78 a 89”.
O aceno à possível retomada das invasões de fazendas com uma eventual vitória de Lula representaria uma interrupção na série histórica de queda de ocupações ilegais de imóveis rurais. Levantamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) mostra que desde o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) invasões de terra vêm apresentando redução significativa.
Nos oito anos de FHC, foram 2.442 invasões, média de 305 por ano. Nos dois mandatos de Lula (2003-2010), a média foi de 246 ocupações ao ano, ou 1.968 no período. Na administração Dilma Rousseff (2011-2016) foram 162, em média, por ano e sob Michel Temer (2016-2018), a média anual foi de 27. No governo do presidente Jair Bolsonaro, o Incra informa que foram nove invasões por ano.
Para apoiar Lula na corrida presidencial, o MST vem criando “comitês populares de luta” em todo o país. Segundo Stedile, já foram criados cerca de 7.000 comitês em assentamentos da reforma agrária, em endosso à eleição do candidato petista. “Acho que a vitória do Lula, como se avizinha, vai ter como uma consequência natural, psicossocial nas massas, de um ‘reânimo’ para nós retomarmos as grandes mobilizações de massa”, disse Stedile.
No podcast, o líder do MST admitiu que houve um “refluxo do movimento de massas” durante o governo Bolsonaro, período em que fazendeiros foram autorizados a portar armas em toda a extensão das propriedades e foram distribuídos mais de 400.000 documentos de titulação fundiária.