Neste sábado (27), moradores da Araraquara, no estado de São Paulo, relataram as dificuldades que a população vem enfrentando em razão das medidas restritivas impostas por causa da pandemia.
Falta de comida e aumento abusivo de preços são as consequências principais, após seis dias de ‘lockdown’ decretado no dia 21 de fevereiro.
A maior parte do comércio vem sofrendo com o desabastecimento e alguns produtos já faltam nas prateleiras.
“Aqui no bairro tentei comprar pão, perguntei se eles vão abrir para receber pedidos e a dona da padaria falou que estava sem estoque porque nem os fornecedores dela podiam trabalhar para fornecer os produtos pra ela produzir”, afirma uma moradora do bairro Jardim Universal.
Além da falta de mercadoria, ainda há o problema enfrentado por aqueles que não possuem infraestrutura para o sistema de entrega, já que o único sistema de funcionamento permitido é o de delivery, inclusive para supermercados.
Os lojistas afirmam que não estavam preparados para atender a demanda, o que vem causando aumento nos prazos de entrega, que podem chegar a dois dias. Além disso, alguns estão estipulando limite mínimo para compras, com valores de R$ 50 ou R$ 80, o que impossibilita que clientes com menor poder aquisitivo possam realizar seus pedidos.
“Se ele [prefeito] tivesse conversado com essas instituições antes, essas instituições tinham se programado, se organizado, falado: ‘poderemos fazer X entregas por dia, seus pedidos vão entrar numa sequência de produção’. Eles pegavam os funcionários lá dentro e separavam para a parte de preparação de alimentos, algo que o pessoal de supermercado está reclamando muito. Isso teria ajudado a dar certo”, afirma o empresário Alexandre Cruz, que participa de um grupo de empresários que tenta reduzir os impactos da crise no município desde o início da pandemia.
Segundo moradores, a crise atingiu a cidade tão rápida e diretamente, que pessoas estão pedindo comida nas ruas. “Se você andar no centro de Araraquara, você não reconhece mais a cidade. As pessoas estão no semáforo desesperadas pedindo comida. Isso virou um problema humanitário”, relata Marcelo Santana.
Após as cenas narradas ao longo da semana, a prefeitura da cidade anunciou na noite desta quinta-feira, 25, novos decretos que modificaram a logística do lockdown, permitindo que compras por drive-thru fossem feitas presencialmente na sexta-feira. A partir deste sábado, 27, será permitido o atendimento presencial de supermercados, quitandas e açougues, desde que respeitando o “limite de consumidores” e fila externa com três metros de distanciamento entre cada pessoa, tendo, no máximo, 20 pessoas.
Os postos de combustíveis, que também estavam fechados, retomarão os atendimentos para os “trabalhadores autorizados a desempenhar suas funções” entre as 6h e 19h.
Restaurantes e comércios deverão seguir fechados, incluindo o esquema de delivery.
A preocupação agora é que, com a reabertura de parte do comércio, haja uma corrida para compra de mantimentos, o que pode causar ainda mais aglomeração do que se tivesse sido mantido o funcionamento normal, já que as pessoas estão sem suprimentos, e o comércio local está desabastecido.
“Vai juntar todo mundo nos supermercados, porque é a única opção de alimento que as pessoas têm. Têm pessoas saindo da cidade, quem tem condições, e lotando os supermercados das cidades vizinhas”, falou um morador.