No último final de semana, um jovem de 18 anos identificado como Lucas Rocha Oliveira foi internado após um ataque de poraquê, uma das espécies de peixe-elétrico da Amazônia. O caso aconteceu na cidade de Laranjal do Jari, no Amapá, na última sexta-feira, 29.
Segundo testemunhas, o animal surgiu na área urbana devido às fortes chuvas que atingem o município desde março e que causaram o aumento no nível do Rio Jari, o principal da região. Na última semana, a água atingiu uma meta histórica, superando os 3 metros, e alagou a maioria dos bairros de Laranjal do Jari.
De acordo com Arailza Martins, diretora do Hospital Estadual de Laranjal do Jari (Helaja), Lucas será encaminhado nesta terça-feira, 3, para atendimento neurológico na capital Macapá.
Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra a família levando Lucas em uma canoa até a unidade de atendimento, onde deu entrada na sexta-feira. As imagens mostram o menino em estado de choque, com parte do corpo tremendo.
A diretora do hospital, diz que o quadro do jovem é estável, mas ele apresenta uma condição chamada de “hemiplegia”, que é uma paralisação que atinge um lado do corpo, impedindo a movimentação dos membros. No caso de Lucas, a região atingida foi o lado esquerdo. Ele explica que “O quadro dele é estável e por isso ele vai viajar de ambulância. A única preocupação é o agravamento do quadro da hemiplegia, por isso a necessidade da consulta com um especialista em neurologia”.
Poraquê
Raimundo Nonato Gomes, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e especialista em pesquisas sobre os poraquês, explicou que é muito provável que o animal estava no local por conta da cheia do rio: “O poraquê finaliza o período reprodutivo quando há inundações, já que os ninhos são submersos e ele respira ar. Dessa forma, não há local para que ele faça o ninho, então a tendência é que ele fique forrageando (procurando) em busca de comida. O poraquê acompanha o alagamento para caçar a alimentação”, diz Raimundo.
O cientista explica ainda que ele costuma atacar e se defender de possíveis predadores, mas que para isso, ele pode lançar dois tipos de sinais: o mais fraco, utilizado para se localizar no ambiente e para a comunicação com outros animais da mesma espécie; e o mais forte, aplicado em presas e ataques a predadores: “Os seres humanos são vistos como inimigos, então ele se defende. Nós que estamos no território deles […]. Foi um acidente, com a enchente, a área de vida dos humanos se sobrepôs a dos poraquês, então ele se defendeu com a descarga elétrica. Normalmente eles usam as laterais alagadas dos rios para se alimentar, no período da cheia”, afirmou.
A suspeita é que uma das duas espécies descritas em 2019 – Electrophorus voltai ou Electrophorus varii – que são comuns na região do Vale do Jari, tenham atingido o jovem. A tensão elétrica das espécies pode variar entre 650 a 860 volts. Raimundo estima que o responsável pelo acidente tenha sido um macho, já que de acordo com testemunhas, o poraquê tinha aproximadamente 2 metros de comprimento e as fêmeas não chegam a tamanhos grandes como esse.
Ele também destaca que a espécie tem hábitos noturnos e costuma se alimentar de outros peixes, alguns mamíferos e até insetos. Dessa forma, quando os estímulos nervosos do animal são transformados em eletricidade, a descarga é tão forte que pode chegar a matar um cavalo.