Governo francês acolheu, pela primeira vez, uma embarcação com requerentes de asilo e disse que governo italiano não foi solidário
A França, pela primeira vez, recebeu um navio que transportava requerentes de asilo. Os 230 imigrantes foram resgatados por ONGs no Mar do Mediterrâneo há cerca de três meses. O governo de direita da Itália, da primeira-ministra, Giorgia Meloni, não permitiu a atracagem no navio, que pediu autorização há cerca de 20 dias.
Com isso, na quinta-feira 10, o governo do presidente Emmanuel Macron concordou em receber o barco, afirmando que se trata de uma decisão “excepcional”. A França também prometeu retaliar a Itália por não respeitar a lei internacional de dar porto ao barco.
Durante a campanha, Giorgia falou repetidas vezes sobre a necessidade de rever leis e tratados de imigração, já que a Itália acaba sendo obrigada a receber todos os imigrantes no norte da África que chegam ao país pelo Mediterrâneo, por ser o porto mais próximo.
Esse episódio, 20 dias depois de Giorgia tomar posse como premiê italiana, deve fazer com que a União Europeia ponha em pauta a discussão sobre imigração. Para o governo francês, a Itália foi “irresponsável e desumana” ao não ajudar o barco.
Segundo a imprensa internacional, o navio Ocean Viking, operado pela ONG europeia SOS Méditerranée, recolhia os migrantes no mar perto da costa da Líbia, antes de passar semanas à procura de um porto para recebê-los.
Ao receber os 230 passageiros, o governo francês disse que os imigrantes elegíveis para fazer pedidos de asilo podem então ser transferidos para outros países europeus. Quem a França decidir que não se adéqua aos critérios de asilo será devolvido ao país de origem, disse o ministro francês do Interior, Gérald Darmanin.
A França nunca havia permitido que um navio de resgate transportando imigrantes desembarcasse em sua costa. Segundo Darmanin, de acordo com as regras da União Europeia (UE), os requerentes de asilo são responsabilidade da Itália e que receber o barco foi uma medida excepcional tomada por razões humanas.
Ainda de acordo com o ministro, Macron, há dias, tentava convencer as autoridades italianas a aceitarem a lei internacional de que um barco em perigo pode ir ao porto mais próximo. Darmanin disse ainda que a recusa da Itália era incompreensível e que haveria “graves consequências” para as relações bilaterais da Itália com a França e com a UE como um todo.
A França já decidiu congelar um plano para receber 3,5 mil requerentes de asilo atualmente na Itália, incumbência gerada em razão de um acordo europeu de divisão de encargos com imigrantes.
Em entrevista coletiva nesta sexta-feira, Giorgia disse que ficou “impressionada com a reação agressiva do governo francês, que do meu ponto de vista é incompreensível e injustificada”. Segundo ela, a Itália não pode ser acusada de falta de solidariedade, porque 90 mil imigrantes aportaram na Itália em 2022, e voltou a defender mudanças nas regras. “A Itália deve ser o único porto possível para o desembarque de migrantes do Mediterrâneo? Não acho justo acusar-nos de não termos sido responsáveis.”
Entre as propostas da premiê italiana estão a criação de pontos na África para acolher os requerentes de refúgio e asilo, até que a situação deles seja analisada e haja a distribuição de refugiados entre os aliados da União Europeia.