Página foi elencada para uma iniciativa do Ministério da Saúde contra desinformação, mas acabou não participando
Apesar de ser uma notória disseminadora de teorias da conspiração e notícias falsas, a página Choquei foi cogitada para um projeto contra desinformação desenvolvido pelo Ministério da Saúde e chegou a participar de uma parceria para divulgação de uma campanha da pasta sobre multivacinação. As informações fazem parte de uma reportagem do site Núcleo.
Com base em informações obtidas via Lei de Acesso à Informação, o veículo divulgou um mapeamento que lista por volta de 37 propostas de campanhas diferentes do Ministério da Saúde e mais de 700 perfis considerados parceiros em potencial, entre páginas governamentais, políticos, cientistas, influenciadores e organizações.
Na lista, a Choquei aparece duas vezes. A primeira delas é para uma ação de agosto do ano passado para “divulgar no Twitter o lançamento do perfil do Zé Gotinha e campanha de multivacinação”. A parceria, de fato, se concretizou, com a republicação, no perfil de fofocas, de uma postagem da apresentadora Xuxa com o Zé Gotinha e uma visita do mascote ao Cristo Redentor.
A segunda citação ao perfil foi para o lançamento da iniciativa Saúde com Ciência, que é voltada, segundo o governo, “para a promoção e fortalecimento das políticas públicas de saúde e a valorização da ciência” e também para “responder, de maneira preventiva, aos efeitos negativos das redes de desinformação”. Dessa vez, porém, a página acabou não participando.
Apesar de aparecer apenas duas vezes no mapeamento da pasta, o site identificou 17 interações entre o perfil oficial do ministério e a página de fofocas só na rede social X entre junho do ano passado e janeiro deste ano. Em nove dessas interações, as postagens divulgavam ações de governo ou de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
POSICIONAMENTO DO MINISTÉRIO
De acordo com o Núcleo, o Ministério da Saúde informou, via Lei de Acesso à Informação, que nenhuma das páginas citadas no mapeamento “recebe qualquer tipo de cachê ou pagamento pela produção de conteúdo ou participação em materiais orgânicos de redes sociais”.
Já em nota enviada ao veículo de imprensa, a pasta informou que o documento visava identificar perfis que abordavam temas de interesse do ministério. A respeito das interações com a Choquei, o Ministério da Saúde disse responder diariamente a perfis que mencionem seus programas e ações.
“O objetivo das interações realizadas pelo Ministério da Saúde é levar informação institucional da pasta para os públicos interessados no tema”, declarou.
FAKE NEWS E CASO JÉSSICA
Nos últimos anos, a Choquei se tornou uma notória compartilhadora de notícias falsas e teorias da conspiração. A primeira grande fake news do perfil foi publicada em 2022, quando a página falou sobre Ratanabá, uma suposta civilização secreta localizada na Amazônia e que seria “maior do que a Grande São Paulo”. No entanto, segundo especialistas, a história não faz o menor sentido.
“Tudo isso é um delírio”, resumiu o arqueólogo Eduardo Góes Neves, professor do Centro de Estudos Ameríndios da Universidade de São Paulo (USP), quando a história começou a circular.
Foi no ano passado, porém, que a página se envolveu no grave compartilhamento de uma notícia falsa envolvendo a jovem Jéssica Canedo. Sem verificar a veracidade, o perfil de fofocas compartilhou a informação de que Jéssica teria envolvimento com o humorista Whindersson Nunes. Apesar da negativa dos dois, a página decidiu manter inicialmente a história no ar.
Na época, Raphael Sousa, criador da Choquei, chegou a ironizar um pedido de Jéssica para que a campanha de difamação fosse encerrada. Com depressão, a jovem acabou provocando a própria morte no dia 22 de dezembro de 2023. Posteriormente, a página admitiu ter compartilhado a notícia falsa e alegou que passava por um “profundo processo de reavaliação interna”.
No início de março deste ano, a Polícia Civil de Minas Gerais concluiu o inquérito envolvendo a morte da jovem e decidiu não indiciar o proprietário da página Choquei, nem os demais responsáveis pelas páginas de fofoca que divulgaram o conteúdo falso envolvendo Jéssica e o comediante.
Na ocasião, os investigadores alegaram que foi a própria jovem forjou os prints contendo as mensagens românticas com Whindersson. A polícia também afirmou que Jéssica foi a responsável por enviar o conteúdo para as páginas de fofoca por meio de contas falsas que ela mesma criou.