Local tem atualmente mais de 4 mil pessoas alojadas, mas a capacidade é para apenas 250 internos
Após mais de dois meses de governo, a administração de Joe Biden permitiu pela primeira vez, na terça-feira (30), a entrada de jornalistas no principal centro de detenção de crianças imigrantes na fronteira dos Estados Unidos. O cenário encontrado pela imprensa foi, simplesmente, caótico, com mais de 4 mil pessoas, incluindo crianças e famílias, em um espaço destinado para 250 pessoas.
De acordo com a emissora ABC, os mais novos no local são mantidos em um grande “cercado” com esteiras no chão para dormir. A constatação foi feita por dois jornalistas da The Associated Press e uma equipe da CBS, que foram autorizados pela Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA a visitar as instalações em Donna, Texas, no corredor mais movimentado de travessias ilegais.
Ao todo, mais de 4.100 pessoas estavam alojadas na propriedade na terça. A maioria dos “presos” no local são crianças desacompanhadas, que ficam alojadas em tendas até serem levadas para instalações administradas pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos, para só então serem colocadas com um membro da família, parente ou padrinho.
Na visita, os jornalistas constataram que as crianças estavam sendo mantidas, às centenas, em oito compartimentos formados por divisórias de plástico, cada um com cerca de 297 metros quadrados. Muitas dessas divisões tinham mais de 500 crianças dentro.
O oficial executivo em exercício da Patrulha de Fronteira dos EUA em Rio Grande Valley, no Texas, disse que 250 a 300 crianças entram diariamente no local, mas o número daqueles que saem é drasticamente menor.
As crianças mais novas, entre elas uma menina de 3 anos sendo cuidada por seu irmão de 11 anos e um recém-nascido com uma mãe de 17 anos, são mantidos fora dos compartimentos e dormem em uma área de cercadinho.
Na terça-feira, os jornalistas viram crianças passando por uma “verificação”. Eles entraram em uma pequena sala para inspeção de piolhos e um exame de saúde. Os cabelos foram lavados com mangueira e as toalhas jogadas em uma lixeira preta marcada como “piolhos”.
As crianças – muitas das quais fizeram longas viagens para chegar à fronteira, incluindo trechos a pé – também foram verificadas quanto à sarna, febre e outras doenças. Entretanto, nenhum teste de Covid-19 foi administrado. Enfermeiras também realizaram testes psicológicos, perguntando às crianças se elas tinham pensamentos suicidas e todos os cadarços de sapatos foram removidos.
As crianças foram então conduzidas por um corredor de grama verde para uma grande sala de entrada. Os maiores de 14 anos têm suas impressões digitais e suas fotos tiradas; as crianças mais novas, não. As crianças receberam pulseiras com um código de barras que mostra a história de quando tomaram banho e as condições médicas.
A situação caótica é motivada por conta do fato de que Patrulha de Fronteira está apreendendo muito mais crianças diariamente do que os Serviços Humanos e de Saúde estão entregando aos padrinhos dos EUA, levando a um grande atraso no sistema. A Patrulha de Fronteira geralmente não deve deter crianças por mais de três dias, mas tal regra não tem sido respeitada.
De acordo com a ABC, mais de 2 mil crianças estiveram nas instalações de Donna por mais de 72 horas, incluindo 39 por mais de 15 dias. A situação fez com que Biden fosse duramente criticado pelos republicanos que buscaram defender o histórico de imigração do ex-presidente Donald Trump.