Flórida acaba com o governo autônomo do Walt Disney World

Governador e empresa estão em conflito devido à lei que proíbe conteúdo LGBTQIA+ nas escolas primárias

O governador da Flórida, Ron DeSantis, acabou nesta sexta-feira (22) com o autogoverno que o Walt Disney World mantinha em Orlando. O republicano está em pé de guerra há semanas com a empresa por conta da oposição da Disney à lei Don’t Say Gay (“Não diga gay”). O regulamento proíbe professores de falar com alunos do primário sobre orientação sexual e identidade de gênero.

O governador assinou de forma expressa o projeto de lei, apresentado na terça-feira (19) e aprovado na quinta-feira (21) no Legislativo, que elimina o privilégio de autogoverno e impede a Disney de gozar da mesma liberdade de continuar construindo no entorno dos parques.

“O lugar mais feliz da Terra” tinha desde 1967 a categoria de distrito fiscal especial. Trata-se de um governo autônomo que lhe permitiu crescer para ter meia dúzia de parques temáticos, um centro esportivo, um enorme shopping center, 25 hotéis, sua própria polícia e corpo de bombeiros e cerca de 80.000 funcionários.

Tudo isso em uma área de 27.000 acres (quase 11.000 hectares) localizada nos condados de Osceola e Orange, no centro do estado, uma espécie de “reino mágico” e praticamente independente dentro do estado da Flórida.

No entanto, o cenário mudou nesta sexta-feira depois que DeSantis, um possível candidato à Casa Branca em 2024, assinou a lei e criticou a Disney por “mentir” sobre a norma “Não diga gay”.

O governador descreveu como “provocativo” o fato de uma empresa californiana usar seu “poder econômico para atacar os pais” de famílias do estado e garantiu que se defenderá na Justiça contra qualquer tentativa de revogação da medida por parte da Disney.

CONFLITOS

Tudo começou quando no mês passado a comunidade LGBTQIA+, incluindo funcionários da empresa, protestou contra a suposta falta de oposição do grupo Disney a essa lei, considerada ultraconservadora por grupos progressistas.

Isso levou a direção da empresa a tentar persuadir DeSantis, que chegou a ser convocado para uma reunião formal para discutir o assunto. No entanto, o governador se negou e a empresa anunciou que deixaria de fazer contribuições para campanhas políticas na Flórida, incluindo a do governador.

“Se a Disney quer brigar, eles escolheram o cara errado. Não permitirei que uma corporação woke (que se sente moralmente superior) com sede na Califórnia administre nosso estado”, escreveu DeSantis em uma mensagem a seus seguidores nesta semana.

O republicano mostrou seu lado mais severo com a turma de Mickey Mouse e considerou que a Disney se beneficiou de “acordos especiais por muito tempo” na Flórida.

ECONOMIA

As implicações econômicas da eliminação, a partir de 1º de junho de 2023, do distrito fiscal especial de Reedy Creek Improvement District, onde a Disney opera seus hotéis e parques temáticos, ainda precisam ser conhecidas em detalhes. Essa dissolução pode levar os moradores dos condados de Orange e Osceola a assumirem uma dívida de cerca de 1 bilhão de dólares (R$ 4,8 bilhões) e despesas dos serviços que a Disney pagou até agora.

O prefeito de Orange County, Jerry Demings, disse em comentários divulgados pela imprensa local que assumir as despesas diárias de Reedy Creek seria “catastrófico” para suas contas. DeSantis, entretanto, assegurou nesta sexta-feira que têm “tudo pensado” e que a Disney “vai pagar mais impostos”.

Resta saber o que fará a Disney, que ainda não se pronunciou sobre essa lei, mas já se prevê que a batalha continue na Justiça.

Fonte: EFE

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