Ex-refém sobre Hamas: “Brutos” e de “comportamento selvagem”

Luis Har relatou detalhes sobre sequestro e período no cativeiro

Luis Har, um argentino-israelense de 71 anos, vivia tranquilamente no kibutz Nir Yitzhak, a apenas dois quilômetros da fronteira com Gaza, quando sua vida mudou drasticamente em 7 de outubro do último ano. Har e sua família foram sequestrados em um ataque coordenado do Hamas, marcando o início de uma provação angustiante que duraria 129 dias. Em seus relatos, ele conta que foi tirado de casa com “gritos e empurrões” e “tratado como cachorro” pelo grupo terrorista.

As informações foram cedidas ao Daily Mail e também em depoimento na sede do Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas, em Tel Aviv. Segundo Har, o fatídico dia começou como qualquer outro até que terroristas armados invadiram o kibutz, entrando em sua casa com violência. Ele, sua esposa Clara, três parentes dela e Bella, o pequeno cachorro da família, foram levados sob a mira de fuzis.

“Os terroristas fizeram um buraco na cerca do kibutz e chegaram até a janela da minha casa. Entraram atirando com fuzis e conseguiram invadir o quarto-forte em que tínhamos nos escondido, mas não nos mataram. Nos arrastaram para fora de casa e nos colocaram na caçamba de uma caminhonete cheia de armas”, recorda.

De acordo com ele, na ocasião, os terroristas “tinham os olhos arregalados” e estavam “claramente dopados”.

“Tinham um comportamento absolutamente selvagem. Clara tentou afastar a ponta do fuzil do meu rosto, mas segurei a mão dela dizendo que não devíamos fazer nada que eles interpretassem como uma reação. Falávamos em espanhol entre nós, para que não nos entendessem”.

Transportados para Gaza, o grupo enfrentou horas de caminhada forçada em túneis subterrâneos escuros.

“Chegamos à Faixa de Gaza e, em um certo ponto, nos colocaram dentro de um túnel. Descemos cerca de 40 metros e andamos por horas em completa escuridão, pisando em terra e cabos. Chegamos a um lugar onde fomos trancados em um quarto pequeno e improvisado”, detalha.

NO CATIVEIRO

Durante o período em que permaneceram cativos, Har e os outros reféns tiveram que se adaptar às duras condições de vida.

“Fazíamos uso de um banheiro normal que havia na casa. Passamos vários dias sem água. Quando havia, não era água corrente. A água era racionada. Vinha num balde, e usávamos uma caneca para nos lavar e dar descarga na privada. Não dávamos descarga quando fazíamos xixi, para não desperdiçar. Deixávamos acumular. No cativeiro, havia uma cozinha. Eles nos traziam o que havia para cozinhar no dia, podiam ser batatas, ervilha ou tomate. Eu cozinhava o que havia para cozinhar. Houve vários dias em que não havia nada além de pão sírio para comer. Mas não nos faltaram alimentos, nem fomos torturados”, conta Har.

Apesar da hostilidade de muitos sequestradores, um deles se mostrou mais humano.

“Ele não andava armado e tentou se comunicar conosco. Usávamos uma mistura de hebraico, árabe, inglês e gestos para conversar. Ele nos garantiu que estávamos ali para ser trocados por prisioneiros palestinos e que nos protegeria de seus companheiros. (…) Os demais na casa eram violentos. Andavam sempre armados, eram brutos e gritavam conosco”, relata Har.

A tensão aumentava com os sequestradores frequentemente informando sobre as baixas do Exército israelense e alegando que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu queria os reféns mortos.

“Eles tentavam nos desmoralizar dizendo que nossa comunidade, Nir Yitzhak, havia sido destruída (…). Tenho a sensação de que, do lado de lá [referindo-se ao Hamas], não há com quem falar. Não há diálogo nem negociação possível. Eles me diziam que, se eu tinha nascido na Argentina, deveria voltar para lá, porque os israelenses, cedo ou tarde, serão todos empurrados até o mar”, diz Har.

RESGATE

A libertação das mulheres e do cachorro ocorreu após 53 dias, durante um cessar-fogo que permitiu a troca de reféns por prisioneiros palestinos. Har e seu cunhado, Fernando, permaneceram em cativeiro até uma operação de resgate do exército israelense em 12 de fevereiro.

“Às 2h da manhã, soldados israelenses invadiram a casa onde estávamos e nos levaram para um local seguro”, relembra.

Agora, vivendo com a filha em Or Aqiva, Har reflete sobre sua experiência. Ele enfatiza a importância de continuar vivendo e perseguindo suas paixões, aconselhando outros a não deixarem o trauma paralisar suas vidas.

“Hoje, por fora, estou bem. Por dentro é que vai demorar. Às vezes, eu me ponho a chorar [começou a chorar enquanto falava]. Mas precisamos ser fortes e seguir adiante. Gosto de dançar. Danço num conjunto de baile. A primeira coisa que fiz depois de sair do cativeiro foi dançar. Muita gente aqui [em Israel] diz que parou de ter alegria e de viver, de fazer o que gosta, desde o 7 de Outubro. Eu sempre digo a todos: não façam isso. Continuem fazendo o que vocês mais gostam. Não deixem de viver”, finalizou.

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