Advogados da Nicarágua que foram suspensos de forma definitiva pela Suprema Corte de Justiça do país, sob as alegações de que tiveram a nacionalidade cassada “e são traidores da pátria”, criticaram nesta sexta-feira (12) a perda do direito de exercer a profissão.
Na quinta (11), a Suprema Corte, controlada pelos governistas sandinistas, suspendeu a licença de 25 advogados, incluindo o premiado escritor Sergio Ramírez, a veterana defensora dos direitos humanos Vilma Núñez e o ex-juiz Rafael Solís.
O advogado Roger Reyes, defensor do ex-candidato à presidência Félix Maradiaga e um dos afetados pela medida, afirmou que o cancelamento de uma profissão e de um título está “longe de qualquer realidade legal”.
“Eles tiraram tudo de nós. Peço a Deus que o ódio não tome conta de mim. Não serei a mesma que aqueles que querem me destruir hoje. Serei advogada e nicaraguense até o último dia de minha vida. Vocês estão perdendo seu tempo”, comentou a defensora de direitos humanos María Oviedo.
“O presidente Daniel Ortega vê todos nós como inimigos, eles podem tirar meu diploma (de advogado e tabelião), mas não o que eu sei”, disse o político da oposição Eliseo Núñez.
A líder da oposição Ana Margarita Vijil, a quem o governo da Espanha concedeu nacionalidade espanhola, disse que foi dormir nesta sexta com a notícia de que a Suprema Corte havia decidido cancelar seu diploma de direito.
“Hoje acordei com a notícia de que o governo espanhol tinha aprovado meu pedido de nacionalidade espanhola, uma notícia difícil, uma (outra) notícia que dá esperança”, disse Vijil em vídeo publicado em suas redes sociais.
A ativista e ambientalista Mónica López Baltodano, filha dos ex-guerrilheiros sandinistas Julio López Campos e Mónica Baltodano, afirmou que, mesmo que tentem impedi-la de exercer sua profissão, não poderão fazer desaparecer seus três livros, nos quais ela fiscaliza as autoridades.
A Nicarágua vive uma crise política e social desde abril de 2018, que se acentuou após as polêmicas eleições gerais de 7 de novembro de 2021, nas quais Ortega foi reeleito para um quinto mandato, além de quarto consecutivo e segundo com sua esposa, Rosario Murillo, como vice-presidente, enquanto seus principais concorrentes foram presos ou se exilaram.