Ditadura da Nicarágua fecha rádios católicas e prende bispo

As autoridades acusam a igreja de ‘organizar grupos violentos’ para ‘desestabilizar o Estado’

A Nicarágua fechou sete emissoras de rádio católicas ligadas ao bispo Rolando Álvarez, forte crítico do ditador Daniel Ortega e membro da Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN).

Há uma semana, Álvarez denunciou o fechamento de rádios religiosas. Ele exigiu que Ortega “respeitasse a liberdade de culto diante do assédio” que, segundo ele, a igreja católica sofre. O bispo acabou detido pelas forças de segurança, acusado de tentar desestabilizar o país.

Na quinta-feira 11, o bispo Álvarez disse que está bem de saúde, assim como as pessoas com ele na cúria. “Graças a Deus estamos bem de saúde, vivendo em comunidade”, afirmou em uma missa transmitida pelo Facebook. “Estamos nas mãos de Deus. Estamos vivendo a detenção como um retiro espiritual.’

As autoridades da Nicarágua acusaram o padre de tentar “organizar grupos violentos” e incitar “a realizar atos de ódio com o objetivo de desestabilizar o Estado”, informou a polícia.

Relações conturbadas com a Igreja Católica

As relações entre a Igreja Católica e a ditadura de Ortega começaram a se deteriorar em 2018, quando vários templos abriram suas portas para abrigar manifestantes feridos durante os protestos contra o ditador.

O governo Ortega sustenta que essas manifestações fizeram parte de uma tentativa de golpe promovida pela oposição, com o apoio dos Estados Unidos e cumplicidade dos bispos.

Brasil repudia atos

Dias depois da denúncia do fechamento das rádios católicas, o Brasil repudiou a decisão e o “uso abusivo da violência policial contra líderes religiosos e fiéis”.

Em nota, o ministério de Relações Exteriores manifestou sua “grave preocupação” e instou ao governo de Ortega a restabelecer “sem demora” o funcionamento das emissoras e “o pleno exercício da liberdade religiosa”.

“A medida constitui mais um severo golpe ao espaço cívico na Nicarágua e viola o direito à liberdade de religião ou crença, assim como à liberdade de opinião e de expressão”, comunicou o governo brasileiro em nota. “O governo brasileiro defende o direito à liberdade de toda pessoa de escolher e praticar livremente sua religião”, finaliza o documento.

Repressão

A repressão do governo Ortega aos seus opositores se intensificou em 2021, com a proximidade das eleições presidenciais e não parou de escalar desde então. A partir de 2020, novas leis foram aprovadas no país e têm levado à prisão ou fuga de opositores. Além disso, o tribunal eleitoral foi dominado por juízes ligados ao partido Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN).

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