Dinossauro mais famoso da história em “crise de identidade”: afinal, quantas espécies de tiranossauro existiram?

Um estudo publicado no início deste ano, baseado na análise dos restos esqueléticos de mais de 30 tiranossauros, revela diferenças físicas nos ossos e estruturas dentárias entre espécimes que poderiam sugerir que o dinossauro mais conhecido da história deveria ser dividido em três espécies distintas. De acordo com aquela pesquisa, além do T. Rex, o gênero Tyrannosaurus contaria também com o T.

Imperator e o T.  O rei dos dinossauros tinha mesmo primos? Novo estudo refuta a ideia apresentada no início do ano de que existiram, pelo menos, três espécies distintas.

No entanto, a proposta de reclassificação atingiu a comunidade paleontológica como um asteroide, desencadeando intensos debates. Na segunda-feira (25), outra equipe de pesquisadores lançou o primeiro contra-argumento revisado por pares.

“As evidências não foram convincentes e tiveram que ser respondidas porque a pesquisa sobre o T. Rex vai muito além da ciência e da esfera pública”, disse Thomas Carr, paleontólogo do Carthage College, nos EUA, e primeiro autor da refutação, que foi publicada na revista científica Evolutionary Biology. “Não seria razoável deixar o público pensando que a hipótese de múltiplas espécies era fato”.

A equipe liderada por Carr não tem a menor dúvida da soberania do gigante carnívoro terópode. “O tiranossauro rex continua sendo o único verdadeiro rei dos dinossauros”, disse o coautor Steve Brusatte, paleontólogo da Universidade de Edimburgo, na Escócia.

Um molde de um esqueleto de T-Rex em exibição fora do Museu de Paleontologia da Universidade da Califórnia em Berkeley. O original, um esqueleto quase completo escavado em 1990 nas terras áridas do leste de Montana, está no Museu das Montanhas Rochosas em Bozeman, Montana. Crédito: Keegan Houser, UC Berkeley

De acordo com Carr, Brusatte e os cinco demais autores do novo estudo, o argumento de múltiplas espécies Tyrannosaurus “foi baseado em uma amostra comparativa limitada, medidas não comparáveis e técnicas estatísticas inadequadas”.

Todo esse embate vem da dificuldade de se estudar animais pré-históricos, já que não existem registros do DNA dessas criaturas, o que torna as linhas entre uma espécie fóssil e outra bem confusa. Os paleontólogos, então, analisam características diferentes, como o tamanho e a forma de um osso em particular.

No entanto, os fósseis podem ser enganosos, já que os desgastes no subsolo podem distorcer os ossos. Soma-se a isso o fato de que as diferenças sexuais, lesões, doenças e variações naturais esculpem o esqueleto no decorrer da vida do animal.

Assim, os autores do novo artigo revisitaram os dados originais já conhecidos do T. Rex e também adicionaram medidas de 112 espécies de aves, que são “dinossauros vivos”, além de quatro dinossauros terópodes não-aviários.

“O estudo de março alegou que a variação dos espécimes do T. Rex era tão alta que provavelmente seriam de várias espécies intimamente relacionadas com dinossauros gigantes que comem carne. Mas, essa afirmação foi baseada em uma amostra comparativa muito pequena”, disse o coautor principal James Napoli, pesquisador de doutorado no Museu Americano de História Natural. “Quando comparado com dados de centenas de aves vivas, descobrimos que o Tyrannosaurus rex é menos variável do que a maioria dos dinossauros terópodes. Esta linha de evidências para várias espécies propostas não se sustenta”.

Os responsáveis pelo estudo anterior, obviamente, já previam a polêmica em torno de sua abordagem. Gregory Paul, pesquisador independente e um dos autores do estudo original, está trabalhando em outro artigo e diz que muitas das alegações da refutação são estranhas.

“Eu não gosto do terraplanismo porque as evidências são contra isso”, declarou Paul ao jornal The New York Times. “É o mesmo aqui: as evidências indicam muito fortemente que existem várias espécies”.

Segundo o artigo de Paul e sua equipe, a variação do tamanho do segundo dente na mandíbula inferior, além da robustez do fêmur, indicava a presença de múltiplas espécies.

Os autores do novo estudo não conseguiram replicar os achados dentários e recuperaram resultados diferentes de suas próprias medições dos mesmos espécimes. Além disso, eles identificaram problemas na forma como os “pontos de ruptura” para cada espécie que utilizam esses traços foram estatisticamente determinados.

“Os limites até mesmo de espécies vivas são muito difíceis de definir: por exemplo, os zoólogos discordam sobre o número de espécies vivas de girafas”, disse o coautor Thomas Holtz, pesquisador da Universidade de Maryland e do Museu Nacional de História Natural. “Torna-se muito mais difícil quando as espécies envolvidas são antigas e só são conhecidas por um número bastante pequeno de espécimes”.

Para Holtz, outras fontes de variação, como mudanças relacionadas ao crescimento, à região, ao sexo e a diferenças individuais, devem ser rejeitadas antes que se aceite a hipótese de que dois conjuntos de espécimes são de fato espécies separadas. “Em nossa opinião, essa hipótese ainda não é a melhor explicação”.

Os autores do estudo anterior reconhecem que não podem descartar que a variação observada seja devido a diferenças individuais extremas, ou dimorfismo sexual atípico, em vez de grupos separados. No entanto, eles defendem que a variação física encontrada nos espécimes dos tiranossauros combinados com sua estratigrafia são indicativas da existência de três espécies distintas.

Será que o rei dos dinossauros tinha mesmo alguns primos diferentes? Vamos aguardar novas pesquisas, porque, certamente, elas virão.

Fonte: Olhar Digital

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