Dicionário francês inclui pronome neutro em sua lista de palavras

Medida foi criticada pela primeira-dama, Brigitte Macron

O dicionário Le Robert, um dos mais utilizados na língua francesa, incluiu um pronome neutro em sua lista de palavras. Além de “il” (ele) e “elle” (ela), o dicionário incorporou em suas páginas o pronome neutro “iel”, uma mistura dos vocábulos tradicionalmente usados na França.

A mudança não foi bem recebida pelos políticos do país, incluindo a primeira-dama, Brigitte Macron. “Há dois pronomes: ele e ela”, disse a jornalistas nesta quinta-feira, 18. “A língua é bela e está bem com dois pronomes.”

O ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, não poupou críticas à iniciativa adotada pelo dicionário Le Robert. “Não é o futuro da língua francesa”, tuitou. “Embora nossos alunos estejam em processo de consolidação dos conhecimentos fundamentais, eles não podem ter isso como referência.”

François Jolivet, deputado que pertence ao mesmo partido do presidente Emmanuel Macron, também criticou o ataque ao idioma francês. “Esse tipo de iniciativa leva a uma língua danificada, que desune seus falantes em vez de reuni-los”, escreveu em carta aberta.

Em nota, o Le Robert defendeu a decisão. “O uso desse pronome ainda é relativamente pequeno, mas está em alta nos últimos meses”, explicou. “A missão do Robert é observar a evolução de uma língua francesa em movimento, diversa, e de levar isso em conta. Definir palavras que contam o mundo é ajudar a melhor compreendê-lo.” O verbete ressalta que o uso de “iel” ainda é raro.

Dicionário versus Ministério da Educação

A medida adotada pelo dicionário Le Robert vai de encontro às determinações do Ministério da Educação. Em comunicado emitido em 6 de maio, a pasta proibiu a linguagem de gênero neutro em escolas do país, alegando que seu uso é prejudicial à prática e à inteligibilidade da língua francesa.

“Ao defenderem a reforma imediata e abrangente da grafia, os promotores da escrita inclusiva violam os ritmos do desenvolvimento da linguagem de acordo com uma injunção brutal, arbitrária e descoordenada, que ignora a ecologia do verbo”, afirmaram Hélène d’Encausse, secretária da Academia Francesa, e Marc Lambron, diretor da Academia Francesa.

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