Exoneração foi vista como tentativa de achar um “bode expiatório” para acalmar a opinião pública
Superiores tinham conhecimento de documento que pedia reserva de vacinas para a Corte Foto: STF/Nelson Jr
A exoneração do médico Marco Polo Freitas, após pedido a laboratórios brasileiros para reservarem 7 mil doses de vacina contra coronavírus para imunizar ministros, servidores e familiares, causou uma nova crise no Superior Tribunal Federal (STF). O Presidente da Corte, Luiz Fux, foi alvo de críticas de outros ministros por ter retirado Freitas do cargo de Secretário de Serviços Integrados de Saúde.
Na terça, o médico afirmou que nunca realizou “nenhum ato administrativo sem ciência e anuência” dos seus superiores hierárquicos.
Ministros ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo elogiaram a atuação profissional de Freitas nos 11 anos em que esteve no Supremo (desde 2014 à frente da secretaria). Eles lembraram ainda que Fux havia defendido o pedido de reserva de imunizantes para a Corte, em uma entrevista veiculada pela TV Justiça na semana passada. A demissão de Freitas foi interpretada, nos bastidores, como uma tentativa de achar um “bode expiatório” para acalmar a opinião pública.
O ofício com o pedido de vacinas, enviado à Fiocruz no dia 30 de novembro, é assinado pelo diretor-geral do STF, Edmundo Veras dos Santos Filho. A Fiocruz já negou a solicitação do Supremo. Ainda falta manifestação do Instituto Butantan, também acionado pela Corte.
MINISTROS QUESTIONAM
À frente da Secretaria de Serviços Integrados de Saúde, Freitas fazia o acompanhamento médico dos ministros. Além de ter acesso às fichas dos magistrados, ele indicava, nas viagens oficiais dos integrantes da Corte, hospitais de referência para urgências de saúde.
– O médico Marco Polo Dias Freitas é um dos mais renomados clínicos do Brasil. Conduziu com absoluta maestria a adaptação da rotina do STF no início da pandemia. A responsabilidade pela infeliz requisição de vacinas não pode ser atribuída a um profissional da saúde – disse o ministro Gilmar Mendes ao Estadão.
Marco Aurélio Mello, por sua vez, apontou que o ofício foi assinado pelo diretor-geral, que só atua externamente “em nome do tribunal com o conhecimento do presidente”.
– A exoneração implica o afastamento de um bom profissional. Fica no ar a pergunta: A corda estourou no lado mais fraco? A presidência, de viva voz, na TV Justiça, ante o noticiado pela imprensa, defendeu o ato. Arrependimento ante as críticas? Não sei não!
Ricardo Lewandowski também saiu em defesa de Freitas, por quem disse ter “grande admiração”.
– [Eu] O considero um excelente médico e competente gestor, que goza da admiração e [do] carinho de todos os integrantes do STF – disse.
Freitas ocupava o cargo de secretário desde o período em que o ministro presidiu a Corte, em 2014.
Procurado, Fux não quis comentar a demissão de Freitas nem as críticas dos colegas.