Em todo regime autoritário, quando seus métodos são expostos, a reação natural é o fortalecimento ainda maior do arbítrio, no propósito de censurar com mais força a divulgação das verdades inconvenientes ao sistema.
É um roteiro clássico, visto desde as ditaduras brancas até os regimes mais sanguinários. Aliás, não raro é esse o caminho que transforma as primeiras nos segundos.
Não havia qualquer dúvida de que o sistema se uniria para proteger seu integrante exposto nas matérias da Folha, do mesmo modo que tentaria desacreditar o próprio conteúdo.
Eu só não vi ainda alguém justificar o “use a criatividade”.
Estão ignorando isso?
As reações das autoridades não eleitas à matéria da Folha deixam duas coisas absolutamente claras: a blindagem corporativista com que atuam e seu assustador descolamento do mundo real.
O sistema é imensamente mais forte do que uma peça isolada, e segue unido a ela.
Há duas perspectivas essenciais para se analisar o que foi exposto: a dos fatos e a das consequências dos fatos. Sob a primeira, há um escândalo de enormes proporções; sob a segunda, nada até agora indica que haverá alguma mudança no Estado de Exceção brasileiro.
Por Fabricio Rebelo. Jurista. Jornalista. Pesquisador em Segurança Pública