Daniel Silveira é um preso político em tempos democráticos

Os partidos de esquerda, que demonizaram a velha Lei de Segurança Nacional, agora se agarram a este entulho para punir o deputado, que claramente não se enquadrou na “ética da malandragem” do Congresso

A decisão do plenário da Câmara dos Deputados sobre a prisão do deputado Daniel Silveira será disputada e dividida. Não há caminho fácil para o deputado que ousou quebrar uma regra não escrita na política, a “ética da malandragem”.

O velho corporativismo impera entre os salões Verde e Azul. Há uma má vontade visível contra o deputado do PSL do Rio de Janeiro porque ele critica o próprio Congresso e questiona vantagens e posições de proteção das velhas raposas. Ele próprio diz que sempre foi assim, questionador. Preso 90 vezes quando militar, garante que não se enquadra e que chegou “para incomodar mesmo o meio político”

Ao receber a sentença na madrugada, o deputado teve tempo para gravar um vídeo complicando a própria situação. Desafia os ministros do Supremo e garante que vai transformar a vida de cada um deles em um inferno.

De estranho fica mesmo o processo iniciado no Supremo pelo ministro Dias Toffoli, e nomeado como encarregado, e não relator, o ministro Alexandre de Moraes. Na própria decisão de mandar prender um deputado federal, o ministro diz que “chegou ao meu conhecimento”, não foi um pedido do Ministério Público ou qualquer outra ação, mesmo que seja uma notícia crime. A iniciativa partiu do próprio ministro.

O ministro Alexandre de Moraes não tomaria a decisão de tamanha repercussão sem consultar os colegas, segundo avaliações jurídicas.

A encruzilhada agora é do plenário da Câmara. Se decidir pela soltura do deputado Daniel Silveira, a briga passa a ser da Câmara contra o Supremo, na defesa de um integrante da Casa, mas que prega o fechamento do Congresso e faz questão de não ter convivência ou proximidade com partidos e líderes.

O que acontece é que se os deputados endossarem a decisão do ministro Alexandre de Moraes, estarão dando precedente e carta branca para ministros mandarem prender parlamentares.

O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, responde a dois processos já aceitos no Supremo e quer distância de disputas no Judiciário, por isso decidiu conversar com líderes. Foram trocas de telefonemas pela madrugada e cada líder vai reunir a bancada para discutir o que fazer.

Os partidos de esquerda já deram o sinal de que votarão pela continuidade da prisão, mas há quem defenda a manutenção das prerrogativas parlamentares, soltura e abertura de processo de cassação do mandato de Daniel Silveira no Conselho de Ética da Câmara.

Este é um processo exclusivamente político, ou seja, Daniel Silveira é o preso político do momento em tempos democráticos.

Por José Maria Trindade da Jovem Pan

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