Como comprar uma estrela? Quanto custa?

Você já se perguntou como comprar uma estrela? Se sim, saiba que até existem algumas empresas que oferecem este tipo de negócio, permitindo que seus clientes escolham “nomes” para estrelas e recebam certificados depois


Uma das empresas que “vendem” estrelas é a International Star Registry, que atua no negócio desde 1979 e afirma ter uma vasta lista de clientes satisfeitos, como celebridades e pessoas em todo o mundo. Por US$ 54 (aproximadamente R$ 286), os interessados podem adquirir o que a empresa descreve como um “certificado internacional” com o suposto registro da estrela, uma carta estelar e um livro.Existem empresas que prometem “vender” estrelas, oferecendo serviços de nomes sem validade oficial.

O kit inclui também uma “garantia” de que o nome escolhido será registrado para gerações futuras — o que é curioso, já que a “venda” ou “registro” da estrela não é reconhecida por nenhuma instituição astronômica ou científica. Portanto, mesmo que você a “compre” e escolha um nome, ele não terá validade oficial. A única autoridade mundialmente reconhecida para designar nomes oficiais a estrelas é a Organização Astronômica Internacional (IAU).

Em 1998 a International Star Registry recebeu uma notificação de violação emitida pelo Departamento de Assuntos do Consumidor de Nova York. “As empresas que dão nomes a estrelas enganam os consumidores ao fazer com que pensem que podem ‘se tornar uma estrela’ ao dar nome a uma”, observou o então comissário de assuntos do consumidor Jules Polonetsky, na ocasião. “Na realidade, os nomes não são nada além de uma lista no livro de uma empresa”.

Como comprar uma estrela?

Você já deve ter percebido que não é possível comprar uma estrela e menos ainda o nome dela. Como mencionamos acima, existem empresas nacionais e estrangeiras que fornecem o “serviço” de nomes a estrelas por valores que podem chegar a algumas centenas de reais e incluem até brindes, como embalagens especiais, encartes com informações sobre o astro e mais.

Mesmo que você decida realizar uma compra do tipo, nenhum astrônomo, observatório ou enciclopédia irá reconhecer a estrela pelo nome que você escolheu — ela pode até explodir em supernova e chamar a atenção do mundo, mas mesmo em uma situação dessas, somente a empresa que “vendeu” o nome irá identificá-la dessa forma.

Lembre-se que a única instituição que dá nomes oficiais a estrelas é a União Astronômica Internacional, uma organização fundada em 1919 para promover e proteger a astronomia por meio da colaboração internacional. A IAU conta com astrônomos profissionais de todo o mundo e, desde sua criação, vem padronizando a nomenclatura de constelações, planetas, asteroides, estrelas e mais.

Assim, um nome aprovado pela IAU representa o consenso de astrônomos em todo o mundo — tanto que os nomes oficiais são escolhidos para facilitar a localização, descrição e discussão do objeto em questão. Estes nomes são determinados de acordo com regras internacionais, sendo reconhecidos e usados por cientistas, agências espaciais, e autores de literatura astronômica.

Caso você decida dar o nome desejado a uma estrela mesmo assim, nada te impedirá, mas tenha em mente que, mesmo que você faça isso através dos serviços de alguma empresa, o nome não será aceito por nenhum país ou cientista. “O nome pelo qual você pagou pode ser ignorado, esquecido ou vendido novamente a alguém a qualquer momento”, alerta a IAU.
Como são escolhidos os nomes das estrelas?

Antes de continuar, é importante saber a diferença entre o “nome” e a “designação” das estrelas: o primeiro se refere ao nome alfabético (como “Vega”, por exemplo) que usamos para nos referir à estrela. Já a designação (como “HD 172167”) é alfanumérica, e costuma aparecer quase sempre nos catálogos usados por astrônomos profissionais.

Dito isso, o processo de nomenclatura varia. No caso dos planetas do Sistema Solar e da Lua, os nomes que conhecemos já eram de uso comum quando a IAU foi formada e foram adotados pela instituição. Já os nomes dos objetos astronômicos além do Sistema Solar devem ter pelo menos duas partes, ou seja, um acrônimo que defina o catálogo do objeto conforme algumas regras da instituição e uma sequência de caracteres alfanuméricos.

É por isso que, embora algumas das estrelas mais brilhantes tenham nomes próprios de origem árabe, grega ou latina, pois são conhecidas desde a antiguidade, a maioria delas têm identificações alfanuméricas. Neste caso, os nomes são formados por sequências de letras e números, resultando em nomenclaturas como “HR 7001” ou “2MASS J18365633+3847012”.

As designações alfanuméricas são bastante úteis para os astrônomos, mas há situações em que é mais interessante se referir a elas por nomes mais simples. Isso acontece, por exemplo, no caso de estrelas de importância histórica ou cultural. Por isso, em 2016 a IAU criou o Grupo de Trabalho em Nomes de Estrelas (do inglês “Working Group on Star Names”), que vem se debruçando sobre a história e cultura mundiais para catalogar formalmente nomes de estrelas.

A ideia é fazer isso com nomes reconhecidos oficialmente, que representem e respeitem a diversidade global do conhecimento astronômico das heranças culturais do passado e presente. E infelizmente, os nomes comprados na Internet não atendem a estes requisitos.

Fonte: IAU; Via: Almanac, The Washington Post

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