Cientistas “hackeiam” cérebro de moscas e as controlam remotamente (veja o vídeo)

Técnicas parecidas já foram aplicadas para controlar camundongos, o que pode gerar tratamentos melhores para problemas de mobilidade mais intimamente ligados ao cérebro

Cientistas conseguiram “hackear” o cérebro de moscas e as controlar remotamente. Tudo é feito por um comando enviado aos neurônios por eletromagnetismo e, para isso, foi necessário trabalhar com engenharia genética, fazendo com que as moscas expressassem um caminho de íons sensível a calor em alguns de seus neurônios.

Ao sentir calor, o caminho iônico das moscas ativa o neurônio, o que, no caso do estudo, faz com que as moscas abram suas asas, um gesto comumente usado pelo animal durante o acasalamento. O gatilho térmico foi construído a partir de nanopartículas de óxido de ferro: quando um campo magnético é ativado próximo ao animal, as partículas se esquentam, ativando os neurônios e fazendo com que a mosca abra as asas.

Controlando moscas remotamente

O inseto estudado foi, especificamente, a drosófila comum, ou mosca-das-frutas (Drosophila melanogaster). Para os testes, os pesquisadores colocaram os bichos em um local fechado pequeno acima de uma bobina magnética, monitorando seus movimentos através de câmeras no topo. Ao ativar o campo magnético, bingo — as moscas abriram suas asas dentro de meio segundo.

O objetivo da pesquisa, primariamente, é estudar o cérebro e encontrar maneiras de tratar problemas neurológicos. As ferramentas ideais para isso precisam ser incrivelmente precisas, mas também minimamente invasivas. Controlar circuitos neurais através de campos magnéticos é uma espécie de santo graal da neurotecnologia, e é isso que os cientistas da Rice University buscaram fazer.

Esquema mostrando como o campo magnético controla o receptor sensível a calor nas moscas (Imagem: C. Sebesta and J. Robinson/Rice University)

Outra demonstração importante do estudo foi aumentar a rapidez do controle magnético remoto, fazendo com que se aproxime da velocidade natural do cérebro. O objetivo final é utilizar esse tipo de tecnologia para restaurar a visão em pacientes que perderam o sentido ou o possuem de forma reduzida, estimulando o córtex visual e “pulando” a etapa pela qual os olhos são responsáveis, basicamente. Uma ligação direta ocular, por assim dizer.

Há outras visões envolvidas, no entanto. A DARPA — Defense Advanced Research Projects Agency, agência americana responsável por pesquisas tecnológicas na área de defesa —, que financia o projeto, pensa em desenvolver um headset (fone de ouvido com microfone) que possa ler a atividade neural de uma pessoa e aplicá-la em outra, transferindo pensamentos ou sensações entre indivíduos.

Técnicas parecidas já foram aplicadas para controlar camundongos, o que pode gerar tratamentos melhores para problemas de mobilidade mais intimamente ligados ao cérebro. O estudo em questão foi publicado na revista científica Nature Materials.

Confira o vídeo

Fonte: Nature MaterialsRice University

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