Dina Boluarte é a primeira mulher a ocupar o cargo no país
A advogada e política esquerdista Dina Boluarte tornou-se, nesta quarta-feira (7), a primeira mulher presidente do Peru, ao prestar juramento perante o plenário do Congresso, logo após os parlamentares terem destituído Pedro Castillo, acusado de dar um golpe de Estado.
Boluarte, de 60 anos e de cuja vida pessoal não se conhecem muitos detalhes, foi eleita primeira vice-presidente da República na chapa presidencial do partido marxista Peru Livre, que no ano passado apresentou Pedro Castillo como candidato a chefe de Estado do país, e do qual foi expulsa devido a divergências políticas com seus dirigentes.
A nova presidente foi ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social desde o início do governo Castillo, em 28 de julho de 2021, até o final de novembro, quando o cenário político piorou com a confirmação de que o Congresso iria submeter o agora ex-presidente a um terceiro pedido de afastamento por “incapacidade moral permanente”.
Durante sua gestão como vice-presidente, Boluarte representou Castillo em diversas viagens ao exterior, as quais não foram autorizadas pelo Parlamento, a última delas para a cúpula do Fórum de Cooperação Ásia-Pacífico (APEC), na Tailândia, no último mês de novembro.
Da mesma forma, defendeu o papel da mulher nos eventos dos quais participou, como na última Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), na qual afirmou que “não há desenvolvimento sustentável sem o desenvolvimento das mulheres”. Ela destacou o compromisso do Peru com o empoderamento feminino por meio de novas políticas.
Nos últimos dias, vários membros do Executivo, como os ex-ministros Alejandro Salas e Félix Chero, lembraram a Boluarte que ela deveria renunciar ao cargo conforme haviam combinado anteriormente, caso Castillo fosse destituído pelo Congresso, mas ela permaneceu em silêncio.
Em vez disso, a vice-presidente decidiu deixar o ministério quando Castillo fez sua última remodelação de gabinete, após a renúncia do jurista Aníbal Torres como primeiro-ministro em novembro e a entrada nesse cargo da legisladora e advogada Betssy Chávez.
ANÚNCIO GOLPISTA
Após o anúncio do fechamento do Congresso, Boluarte quebrou o silêncio para rechaçar a decisão de Castillo de “perpetrar a quebra da ordem constitucional” e acrescentou que se tratou de “um golpe de Estado que agrava a crise política e institucional que a sociedade peruana terá de superar com apego estrito à lei”.
Desta forma, a advogada deixou de apoiar Castillo publicamente e com sua nomeação como chefe de Estado contrariou o que havia anunciado no ano passado, quando declarou que, se o então presidente fosse destituído, deixaria o governo com ele.
A chegada de Boluarte à presidência do Peru também ocorreu 48 horas depois de a Subcomissão de Acusações Constitucionais arquivar uma denúncia contra ela por supostas irregularidades em sua renúncia ao Registro Nacional de Identificação e Estado Civil (Reniec), órgão onde trabalhava desde 2007.
Além disso, foi presidente do Clube Departamental Apurímac, cargo para o qual realizou procedimentos de transferência de funções que lhe renderam uma investigação do Congresso, que finalmente decidiu que ela não havia cometido infração constitucional.
Boluarte, nascida justamente na região meridional andina de Apurímac, concorreu a um cargo político pela primeira vez nas eleições municipais de 2018 e voltou a tentar uma vaga no Congresso nas eleições extraordinárias de 2020 com o Peru Livre, movimento que a incluiu na chapa presidencial de Castillo um ano depois.
Ao se tornar a primeira mulher presidente da história do Peru nesta quarta (7), jurou “por Deus, pela pátria e pela Constituição” e disse que estava tomando posse “de acordo com a Constituição Política do Peru, de agora até 28 de julho de 2026”, quando deverá se encerrar o atual período de governo.
Boluarte acrescentou que entre os seus compromissos estará “defender” a soberania nacional e que vai “cumprir e fazer cumprir” a Constituição e as leis do seu país.
Além disso, contou que vem de “um pequeno vilarejo” no interior do Peru, que é a última filha de uma família que vivia em condições precárias e que ali aprendeu sobre trabalho e lealdade graças ao afeto de seus pais.