Cientistas alertam para novos sintomas da varíola dos macacos: Inchaço do pênis e dor no reto

No surto atual da doença, pesquisadores têm descrito novos sintomas associados à infecção pelo vírus Monkeypox

O vírus Monkeypox causa uma doença com sintomas semelhantes à varíola comum, mas menos graves. Uma das características principais da varíola dos macacos é a manifestação na pele, na forma de bolhas ou lesões que podem aparecer em diversas partes do corpo, como rosto, mãos, pés, olhos, boca ou genitais.

No entanto, no surto atual da doença que atinge múltiplos países pela primeira vez, cientistas têm descrito novos sintomas associados à infecção. Pesquisadores do Reino Unido divulgaram, em um estudo publicado no periódico BMJ, dois novos sinais da doença dor na região do ânus e inchaço do pênis.

Os especialistas do Serviço Nacional de Saúde (NHS, em inglês) sugerem que as manifestações clínicas devem ser incluídas nas orientações de saúde pública e aos profissionais para auxiliar no diagnóstico precoce e reduzir a transmissão da doença.

Como foram realizadas as análises

Os pesquisadores realizaram uma análise observacional de 197 pessoas que tiveram o diagnóstico de varíola dos macacos confirmado laboratorialmente, testadas e acompanhadas por meio de um centro de doenças infecciosas de alta consequência do Sul de Londres.

O centro é um dos cinco institutos desse tipo no Reino Unido e atende a uma população do Centro e do Sul da capital britânica.

As amostras das lesões foram coletadas em serviços comunitários de saúde sexual e do tratamento do HIV, no momento da internação hospitalar ou da transferência dos pacientes. O material foi processado no Laboratório de Patógenos Raros e Importados em Porton Down, no Reino Unido.

De acordo com o estudo, as pessoas com infecção suspeita e confirmada foram divididas e tratadas de acordo com a gravidade da doença, estado imunológico e sua capacidade de autoisolamento. Como parte do atendimento clínico de rotina, os indivíduos foram avaliados clinicamente antes do teste.

Todas as pessoas com resultado positivo no teste de diagnóstico molecular participaram de uma consulta por telefone para serem aconselhadas sobre o resultado e para realizar uma avaliação de risco.

Os indivíduos que participaram do estudo foram testados entre 13 de maio e 1º de julho e identificados por meio de rastreamento de rotina de amostras enviadas do laboratório de virologia. Aqueles que testaram positivo foram incluídos no estudo mais aprofundado.

Principais sintomas relatados

Segundo o estudo, a idade média dos participantes foi de 38 anos. Todos os 197 participantes eram homens, de 21 a 67 anos, e 196 identificados como gays, bissexuais ou outros homens que fazem sexo com homens.

Todos apresentavam lesões na pele, mais comumente nos genitais (56,3%) ou na região perianal (41,6%). Do total, 170 (86,3%) participantes relataram doença sistêmica. Os sintomas sistêmicos mais comuns foram febre (61,9%), aumento dos gânglios ou linfadenopatia (57,9%) e dor muscular (31,5%).

Entre os pacientes, 102 (61,5%) desenvolveram características sistêmicas antes do início das manifestações na pele e 64 (38,5%) após. Outros 27 (13,7%) apresentaram exclusivamente manifestações na pele sem características sistêmicas.

Ao menos 71 pacientes (36%) relataram dor retal, 33 (16,8%) dor de garganta e 31 (15,7%) inchaço (edema) peniano. Pelo menos 27 (13,7%) apresentavam lesões orais e 9 (4,6%) sinais de alteração nas amígdalas.

Dos 31 participantes que relataram edema peniano, cinco tinham ou fimose complicações associadas (parafimose) documentadas. Um participante, um homem circuncidado de 34 anos, apresentou múltiplas lesões penianas com edema associado clinicamente significativo.

O estudo aponta que 70 (35,9%) participantes tinham infecção concomitante pelo HIV e 56 (31,5%) das pessoas rastreadas para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) tinham uma infecção concomitante. No geral, 20 (10,2%) participantes foram internados no hospital para o cuidado dos sintomas, mais comumente dor retal e inchaço peniano.

“Dor retal e edema peniano foram as apresentações mais comuns que exigiram internação hospitalar nesta coorte, mas esses sintomas não estão atualmente incluídos nas mensagens de saúde pública. Recomendamos que os médicos considerem a infecção por varíola dos macacos naqueles que apresentam esses sintomas”, diz o estudo.

Os especialistas recomendam que indivíduos com infecção confirmada com lesões penianas extensas ou dor retal intensa devem ser considerados para revisão contínua ou tratamento hospitalar.

Sintomas mais comuns da doença

Em geral, a varíola dos macacos começa com uma febre súbita, forte e intensa. O paciente também tem dor de cabeça, náusea, exaustão, cansaço e fundamentalmente o aparecimento de gânglios (inchaços popularmente conhecidos como “ínguas”), que podem acontecer tanto na região do pescoço, na região axilar, como na região genital.

O vírus da varíola dos macacos é transmitido de uma pessoa para outra por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados, como roupas de cama. O período de incubação é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias.

“A principal forma de proteção é evitar contato direto com pessoas infectadas. Lembrando que a principal forma de transmissão ocorre através do contato pele a pele, pessoal, ou obviamente através do contato com objetos pessoais de um paciente que está infectado com a varíola dos macacos”, afirma Arnaldo Medeiros, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

OMS também relata novos sintomas da doença

A apresentação clínica dos casos de varíola associada ao atual surto de varíola dos macacos tem sido atípica em comparação com relatos previamente documentados.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), muitos casos em áreas recentemente afetadas não estão apresentando o quadro clínico descrito classicamente para varíola, que inclui febre, inchaço dos gânglios seguido de erupção na pele.

As características atípicas descritas incluem apenas algumas ou mesmo apenas uma única lesão, ausência de lesões de pele em alguns casos, com dor anal e sangramento.

Os novos sintomas também podem surgir como lesões na área genital ou do ânus que não se espalham pelo corpo, além de feridas que aparecem em diferentes estágios de desenvolvimento. Também tem sido relatado o aparecimento de lesões antes do início da febre, mal-estar e outros sintomas da doença.

Como é feito o tratamento da doença

Os cuidados clínicos para a varíola dos macacos são voltados para o alívio dos sintomas, além do gerenciamento de complicações e prevenção de sequelas a longo prazo. Os pacientes devem receber líquidos e alimentos para manter o estado nutricional adequado. Infecções bacterianas secundárias devem ser tratadas conforme indicado.

Um antiviral conhecido como tecovirimat, que foi desenvolvido para a varíola comum, foi licenciado pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para varíola dos macacos em 2022 com base em dados em estudos em animais e humanos. No entanto, o medicamento ainda não está amplamente disponível.

O Brasil deve receber o medicamento para ampliar o combate ao surto da doença a partir de parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). A informação foi confirmada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na segunda-feira (1º).

Em estudos com animais, o tecovirimat demonstrou diminuir a chance de morte por infecções por ortopoxvírus, como o vírus da varíola dos macacos, quando administrado no início da doença.

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