Citando fontes do alto escalão do Itamaraty, publicação afirma que diplomatas brasileiros estão trabalhando diariamente para manter o G20 intacto
Com o aumento das sanções norte-americanas e europeias contra a Rússia, a estratégia da diplomacia brasileira é se unir a outros países em desenvolvimento para tentar blindar as organizações internacionais e de colaboração multilateral.
O temor do Itamaraty, escreve o colunista Jamil Chade, é de que, na sanha de isolar Vladimir Putin, a pressão internacional “sequestre” as agências técnicas da ONU (Organização das Nações Unidas), além do trabalho do G20 e de outros organismos.
O racha entre as potências ocidentais e os emergentes foi exposto em alguns fóruns internacionais recentes, na OMC, na FAO e na UNESCO. Segundo fontes diplomáticas ouvidas pela publicação, a tensão deve aumentar nas próximas semanas.
A ofensiva liderada pelos EUA e membros da União Europeia (UE) de “neutralizar Moscou” foi ampliada, e a ordem na diplomacia desses países é a de usar todas as entidades para condenar a Rússia e garantir o seu isolamento político.
Para isso, norte-americanos e europeus têm liderado uma verdadeira guerra nos bastidores, buscando apoio para que resoluções e medidas sejam adotadas em todos os organismos internacionais e fóruns de debate.
A preocupação do Brasil é de que tal movimento acabe contaminando os trabalhos técnicos das entidades que lidam com temas específicos, como saúde, educação ou telecomunicações. Um dos focos é manter o G20 “blindado”, e evitar que o grupo passe a ser instrumentalizado por EUA e Europa para pressionar Putin.
Na avaliação do Brasil, tais espaços precisam continuar sendo “inclusivos e plurais” para dar conta das urgências humanitárias no mundo, tanto no aspecto de energia como alimentação.
O mesmo vale para a OMC (Organização Mundial do Comércio) e entidades multilaterais especializadas e técnicas. Na agência de comércio, por exemplo, uma aliança foi montada pelos EUA e europeus para retirar da Rússia direitos comerciais. Mas nem Brasil, Índia, China, África do Sul e outros emergentes se uniram à iniciativa.
Nesta semana, na UNESCO, o Brasil adotou uma postura de abstenção em uma resolução que propunha condenar a Rússia por ataques contra a liberdade de expressão, cultura e educação. Ao lado do Brasil estavam, mais uma vez, países como China, Índia e África do Sul.
Mesmo na FAO, o governo brasileiro quer liderar um pedido para que fertilizantes possam ser excluídos da lista de embargos contra a Rússia. Brasília, pressionada pelo agronegócio, alegará que tais medidas ameaçam ampliar a fome no mundo.