Pandemia fez um bilionário a cada 26 horas, diz relatório

Enquanto a renda de 99% da população mundial caiu ao longo da pandemia, colocando mais de 160 milhões de pessoas na pobreza, um novo bilionário surgia a cada 26 horas ao redor do planeta. Relatório da Oxfam Brasil mostra que os dez homens mais ricos do mundo mais que dobraram suas riquezas, saltando dos US$ 700 bilhões para US$ 1,5 trilhão, o que equivale a um crescimento de renda de US$ 15 milhões por segundo ou a bagatela de US$ 1,3 bilhão por dia. Os dados correspondem aos dois primeiros anos da pandemia. 
Planeta dos extremos

Segundo a diretora-executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia, se os dez homens mais ricos do mundo perdessem 99,99% das suas riquezas, eles continuariam mais ricos do que 99% da população.

Em entrevista à BBC, ela disse que esses bilionários têm seis vezes mais riqueza do que os 3,1 bilhões mais pobres do planeta, sendo um nítido retrato da desigualdade social, econômica e cultural que vigora há centenas de décadas.

Segundo a entidade, que trabalha na busca por soluções contra a pobreza, desigualdade e injustiça, no Brasil há 55 bilionários com riqueza total de US$ 176 bilhões e o país ganhou mais dez integrantes a este seleto grupo desde o início da pandemia da Covid-19.

Eles aumentaram a riqueza em 30%, cerca de US$ 39,6 bilhões, nos últimos dois anos, enquanto 90% dos brasileiros tiveram uma queda de renda de 0,2% entre 2019 e 2020.

Outro dado que chama a atenção: os 20 maiores bilionários brasileiros têm mais riqueza do que 128 milhões de cidadãos, número que corresponde a 60% da população. São detentores de riquezas na ordem de US$ 121 bilhões.

Desigualdade: um sério problema social

Os dados da Oxfam Brasil constam em um estudo intitulado “Desigualdade Mata”. Nele, há um panorama demonstrando que é inadmissível que alguns poucos brasileiros tenham lucrado tanto durante a pandemia, enquanto a esmagadora maioria da população ficou mais pobre.

“Milhões de brasileiros sofreram com a perda de emprego e renda, enfrentando uma grave crise sanitária e econômica”, disse Kátia.
Imposto único aos bilionários

A Oxfam defende que a criação de um imposto único de 99% sobre os ganhos obtidos pelos dez maiores bilionários do mundo durante a pandemia poderia auxiliar imensamente na produção e distribuição de vacina para todos, mais investimentos em campanhas de saúde, ações de adaptação climática, proteção social e combate a violência de gênero em mais de 80 países.
Entidade de combate a desigualdade social defende um imposto único para taxar os bilionários mundiais, com foco em temas relevantes, como compra de vacina, campanhas de conscientização, combate a violência e desigualdade de gênero. Imagem: Shutterstock

Por enquanto, os dados continuam desanimadores no quesito ajuda humanitária. Segundo a Oxfam Brasil, as desigualdades contribuem para a morte de pelo menos 21 mil pessoas por dia ou uma pessoa a cada quatro segundos no mundo. Já a riqueza dos bilionários atingiu o maior patamar nos últimos 14 anos: US$ 5 trilhões.

“Seria importante ter esse debate aqui no Brasil. Infelizmente, o que vemos no país é a atuação de setores privilegiados que impedem até mesmo a básica tributação sobre lucros e dividendos a acionista. É hora de parar de normalizar esses privilégios e ter uma tributação justa no nosso país”, sugere Kátia Maia.

Fonte: Agência Brasil

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