Bolsonaro faz parte do povão e é isso que mantém seu eleitorado fiel

Bolsonaro teve 57,7 milhões de votos. Destes, a esmagadora maioria, arrisco dizer que uns 90%, jamais leu um livro sobre política. Grande parte, aliás, sequer ouviu falar de Scruton, Mises ou Burke.

É alienação, pra dizer o mínimo, pensar que foi a “direita intelectual” que elegeu o Presidente. Quem o elegeu foi o “povão”, com quem ele se comunica extremamente bem, falando a mesma língua.

E a comunicação não se resume à linguagem. Um marqueteiro razoável consegue fazer até o mais prolixo dos políticos falar algumas frases de efeito, antes de regar articulações, nos bastidores, com Petrus Pomerol e Domaine de la Romanée.

Com Bolsonaro existe IDENTIFICAÇÃO. É o tiozão que usa relógio barato, faz piadinha inconveniente, fala palavrão, joga sinuca no boteco, come pastel com caldo de cana sentado na cadeira de plástico.

Já disse isso em outro texto: Bolsonaro faz parte do povão e é isso que mantém seu eleitorado fiel. É isso também que não entra na cabeça dos adversários e faz com que Joices, Dorias e Moros, quando tentam sabotar o governo, caiam em desgraça com a “massa”. Não adianta “fazer cena”, entrar em um Porsche e ir jantar no Parigi. Isso funcionava quando ninguém fazia diferente, quando toda a classe política vivia como Nababos.

Hoje, com um Presidente da República que chega para jantar em uma pizzaria, sem “esquema de segurança prévio”, sem fechar andar de hotel para comitiva, não adianta querer competir em popularidade. É ele quem está em contato direto com o povo.

No máximo, tentam usar dados de institutos de pesquisa duvidosos e poder de influência da mídia opositora para doutrinar os desinformados. Se forem para as ruas, verão que os números de Ibope e Datafolha não passam de piada.

A mesma regra vale para a direita da biblioteca. Não existe um “intelectual” que atinja uma mera porcentagem do engajamento do Presidente. É de se esperar, portanto, que fazer “críticas construtivas”, em público, a essa altura do campeonato, faltando menos de um ano para as eleições, enquanto toda a esquerda está se unindo contra Bolsonaro, não seja visto com bons olhos pelos apoiadores.

Não adianta espernear e chamar de “fanatismo”. Discussões de “purismo ideológico”, neste momento, são um desserviço. Qualquer eleitor que “se canse”, “desencante” e decida não votar nas próximas eleições é um voto ganho pela esquerda.

Se um “professor”, um cara que conhece e compreende as vísceras da política, quer AJUDAR, no atual cenário, ele vai fazer DE TUDO para EXPLICAR como o mecanismo funciona; o quão importante é eleger bons nomes para o legislativo; a impossibilidade, nos moldes políticos brasileiros, de sustentar um governo que não seja de coalizão.

Quem faz uma live, junto com outros que não suportaram o sistema, dizendo que o Presidente deveria fazer coisas que só poderiam terminar em CADEIA ou IMPEACHMENT, sem apontar um MEIO de estas coisas serem feitas com sucesso, não passa de um DEMAGOGO.

Tomemos muito cuidado, então, com aqueles que mostram fórmulas mágicas e deixam a vaidade em primeiro plano, sabendo do impacto desastroso que o “fogo amigo” pode causar. É muito fácil apontar a solução para o mundo, quando não se tem nenhuma responsabilidade por colocá-la em prática.

Falar até papagaio fala. “A turbulência dos demagogos derruba os governos democráticos.” (ARISTÓTELES).

Por Felipe Fiamenghi

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