Quando eu supunha estarem esgotadas as novidades científicas sobre a covid-19, eis que fora das páginas da Nature, da Science e da The Lancet, o Brasil faz a mais nova descoberta sobre o vírus.
Há dois anos convivemos com a meleca do álcool em gel e com o sufoco das máscaras. Tapetes desinfetantes, sapatilhas propé, medidores de temperatura entraram em nossa rotina. Amassamos sofás por conta do fique em casa e do não trabalhe. Milhões perderam emprego, que a economia a gente vê depois. Provocamos o retorno da inflação de preços. Ouvimos desaforos de jornalistas ignorantes que chamam vacina experimental e emergencial de “imunizante”.
Tudo para que, no final das contas, o Brasil, governadores, prefeitos e os grandes grupos de comunicação descubram que o maldito vírus não gosta de folia.
A descoberta é nossa! Ninguém tasque porque essa vimos primeiro. O maldito vírus, que bom sujeito não é, não tem samba no pé, não vai atrás do trio elétrico e não se esbalda no salão.
Sabendo disso, vamos abrir nossos aeroportos, hotéis, ruas e salões para turistas oriundos de países que nos fecharam suas portas. O brasileiro, “bonzinho” como dizia a comediante norte-americana Kate Lyra, não guarda mágoas e logo esquecerá as maldades contra ele praticadas.
Uma perguntinha de profundo interesse “científico” fica no ar. Para onde irá o vírus nesses dias de folguedos? Nem a Globo, nem os universitários souberam me responder. Faço este esclarecimento prévio para não ser denunciado por charlatanismo. Meu palpite é que o vírus, dado seu caráter não burlesco, vá fazer um retiro espiritual em ambiente que reconheça: todos com máscara, álcool em gel, distanciamento.
Certas coisas, no Brasil são tão ridículas e certas pessoas tão hipócritas, tão presunçosas a respeito de sua influência, que não há como levar a sério o que dizem ou fazem. Eu não levo.