Espécie de água salgada conhecida como “olho de boi” pode ser a provável fonte de contaminação
Um estudo realizado entre o Centro de Informações Estratégicas e Vigilância em Saúde (Cievs) de Salvador e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou que a doença de Haff pode estar relacionada com o consumo das toxinas em peixes e crustáceos, que são produzidas por outros organismos e acumuladas nos corpos dos animais. Os casos da doença vêm sendo detectados desde 2016 no Brasil.
Segundo os pesquisadores, a enfermidade é uma causa rara de rabdomiólise, síndrome provocada por lesão muscular que resulta na elevação dos níveis séricos de creatina fosfoquinase (CPK) e, em alguns casos, provoca escurecimento da coloração da urina, variando de avermelhada a marrom — característica que tornou a doença popularmente conhecida como “doença da urina preta”.
A rabdomiólise na doença de Haff tem início rápido, após o consumo de certos peixes e crustáceos cozidos, sugerindo que toxinas estáveis ao calor, ainda desconhecidas, são a causa da doença.
Para realizar o estudo, seis amostras de peixes passaram por análises laboratoriais: duas eram sobras de uma refeição relacionadas a dois casos da doença; outras duas foram obtidas de casos isolados com altos níveis de CPK; e as duas últimas eram amostras frescas obtidas em uma peixaria local, onde alguns pacientes haviam comprado peixes.
Após os testes, foram detectados compostos do tipo palitoxina nas amostras de espécie de água salgada conhecida como “olho de boi”, que pode ser a provável fonte de contaminação. A presença de metais, como arsênio, cádmio e chumbo, não foram identificadas nos peixes.
Os cientistas também realizaram análises de sangue, fezes e urina dos participantes, além de monitorar indivíduos que comeram o mesmo peixe suspeito, mas que não apresentaram sintomas.
Para os pesquisadores, a teoria mais aceita é que os peixes e crustáceos não produzem eles mesmos as toxinas, mas acumulam no seu corpo compostos produzidos por outros organismos, como microalgas, através da cadeia alimentar.
O resultado deve ajudar a fortalecer a vigilância epidemiológica e o treinamento médico para detecção de casos suspeitos da doença.