Marcos Gladstone, pastor gay e fundador da Igreja Contemporânea, de doutrina cristã em atividade há 15 anos disse em entrevista ao Metrópoles que teve uma revelação e ‘se descobriu’ em uma viagem para a cidade San Francisco, nos Estados Unidos.
Ele conta que, na época, era noivo de uma mulher, quando se viu diante de um momento de descoberta: “Ouvi a voz de Deus, revelando que a minha orientação sexual estaria comigo em qualquer lugar, onde quer que eu fosse. San Francisco mudou a minha vida. É a Meca dos gays, uma espécie de terra sagrada, onde eu me descobri”, disse. Marcos cita que “Eu vi casais gays de mãos dadas, se beijando, vivendo seu amor pleno e isso mexeu demais comigo”, acrescentou.
Ao retornar da viagem, o pastor largou a noiva, se casou com outro pastor e fundou a Igreja Contemporânea. Ele explica a decisão com uma passagem bíblica “Jesus disse: a verdade vos libertará. Foi o argumento que usei para dar um ponto final nas minhas dúvidas. Viver na mentira seria um pecado ainda maior diante de Deus”, explica.
Gladstone se casou com o pastor Fabio Inácio, que havia vivido uma história semelhante, de ser noivo de uma mulher, deixar o relacionamento e, da mesma maneira, foi alvo de preconceito: “Depois que eu me assumi, passei a ser atacado dentro da igreja, assim como a minha família. E aquilo se transformou numa missão pra mim. Pessoas de todas as orientações sexuais têm o direito de viver sua fé. Não existe cura gay, mas existe cura para a exclusão, para o preconceito, para o ódio”, ressaltou Gladstone.
Ele cita que após o casamento e a nova forma de conduzir a vida, sua vida mudou. Os pastores se casaram em uma cerimônia realizada em 2009 e formaram uma família, com quatro filhos adotados. Além disso, o projeto religioso se expandiu: atualmente, a Igreja Contemporânea possui mais de 2 mil fiéis e além do Rio de Janeiro, outras unidades da igreja surgiram em três estados: São Paulo, Minas Gerais e Bahia.
No entanto, a ampliação da igreja veio acompanhada por episódios de violência contra os pastores, seus fiéis e os templos, vandalizados em muitas ocasiões. Gladstone cita que “Foi atacada, pichada com dizeres bíblicos usados fora de contexto para atacar os integrantes homoafetivos. Tivemos que contratar seguranças para conter cristãos com ódio, pessoas usadas, muitas vezes politicamente, para atacar gays”, relatou.
Ele cita que busca ensinar aos filhos sobre as adversidades que podem encontrar pelo caminho: “Tentamos mostrar aos nossos filhos que eles precisam ser fortes para enfrentar possíveis situações mais constrangedoras, uma vez que isso, infelizmente, pode acontecer a qualquer momento”, diz Gladstone, que menciona com alegria e orgulho os nomes de seus filhos: Felipe, adotado aos 6 anos, hoje com 17; Davison, acolhido aos 8, e que hoje tem 19; Hadassa, que chegou na família aos 3 meses e hoje tem 5 anos; e Esther, adotada aos 4 meses, hoje com 2 anos.
Além do trabalho pastoral nas sete unidades no Rio de Janeiro, Marcos também orienta fiéis na internet, com aulas on-line sobre teologia inclusiva, além de estudos da Bíblia que mostram como Cristo pregava a aceitação e a inclusão de todos: “O Livro Sagrado é usado, muitas vezes, de forma incorreta, atendendo aos desejos não cristãos de líderes que trabalham em benefício próprio. Tento mostrar que todos somos filhos de Deus, em nossa plenitude, merecedores de um lar, de família e de uma comunidade de fé”, conclui o pastor.