Polícia apura valor supostamente pago pelo Consórcio Estaleiro Rio Tietê em um contrato com a empresa Transpetro
A Polícia Federal está apurando se o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid, recebeu parte de uma propina de cerca de R$ 4 milhões supostamente paga pelo Consórcio Estaleiro Rio Tietê, em Araçatuba (SP), em um contrato com a empresa Transpetro, subsidiária da Petrobras.
O inquérito, que tramita no STF desde maio de 2020, apurava inicialmente se o senador havia recebido doações eleitorais ilícitas, feitas por empresas do consórcio. Mas o andamento da investigação fez a PF reformular a linha de apuração, que, por ora, descartou irregularidades nos repasses eleitorais.
Um relatório parcial, enviado no fim da semana passada ao Supremo pela delegada Lorena Lima Nascimento, indicou que a mudança no rumo do inquérito foi baseada, sobretudo, em relatos de Sérgio Machado, ex-senador e ex-presidente da Transpetro, que tinha apoio político de Renan e do chamado “MDB do Senado” para permanecer no cargo.
Machado afirmou que, após a assinatura do contrato com o Consórcio Estaleiro Rio Tietê para construção de barcaças, em 23 de novembro de 2010, ele pediu ao empresário Wilson Quintella, sócio-administrador do consórcio, em torno de 1% de propina sobre acerto. O valor equivalia a cerca de 4 milhões de reais e foi pago em espécie, de acordo com o delator.
Segundo Machado, o pedido de valores teria sido feito a partir da necessidade de “apoio financeiro” das empresas, para que ele mantivesse o “apoio institucional” dos políticos na presidência da estatal; entre eles, Renan Calheiros.
Quintella, por sua vez, disse que Machado lhe pediu pagamentos a título de “contribuição”, “doação” ou “apoio político”, e a operacionalização dos repasses ficou a cargo de um homem chamado Antonio Kanji. O empresário, porém, alegou não ter conhecimento sobre como os pagamentos eram feitos.
Machado disse que, na época da assinatura do contrato com o estaleiro, no interior de São Paulo, ele tinha o costume de encontrar-se pessoalmente com Renan Calheiros pelo menos duas vezes por mês, em Brasília. Nestas reuniões, o delator afirma que entregava um papel a Renan com as mesmas informações entregues aos empresários que pagariam propina.
Em duas ou três ocasiões, de acordo com Machado, não foi possível encontrar-se com o senador, e as informações foram passadas a Everaldo França Ferro, assessor do gabinete do emedebista, na sede da Transpetro. A PF tem registros de entrada de Ferro na sede da estatal, em 2014.
Entre as diligências que a PF ainda pretende efetivar no inquérito estão os depoimentos de Everaldo Ferro e de Antonio Kanji, “os quais poderão discorrer sobre o caminho do dinheiro destinado a Renan Calheiros”, além da oitiva de Renan, que deve ser o último a depor.