Pedido consta em esboço de uma declaração que os países esperam adotar em uma cúpula no final deste mês
Os Estados Unidos e a União Europeia (UE) devem apoiar uma nova iniciativa para investigar as origens da Covid-19, após emergirem novas suspeitas sobre onde o surto começou, de acordo com um documento visto pela Bloomberg.
Em esboço de uma declaração que os países esperam adotar em uma cúpula no final deste mês, eles fazem um chamado para “avanços em um estudo de fase 2 transparente, baseado em evidências e liderado por especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre as origens da Covid-19, que seja livre de interferência”.
Os EUA estão entre vários países que pediram à China para ser mais transparente com seus dados e permitir maior acesso, em meio a novos questionamentos sobre a hipótese de a pandemia ter começado com um acidente em um laboratório, escapando involuntariamente. A principal hipótese continua sendo a de que o vírus Sars-CoV-2 surgiu em animais selvagens, como os morcegos, e foi transmitido aos humanos por um hospedeiro intermediário.
Na semana passada, os EUA já tinham pedido uma nova investigação à OMS, em um comunicado assinado por outros 14 países, mas que não incluiu os integrantes da UE. Uma nova investigação corre o risco de alimentar tensões das potências ocidentais com a China, que rejeitou insinuações de um vazamento de um laboratório.
Um relatório de uma equipe de especialistas da OMS que visitou a China no início deste ano disse que a origem mais provável era a natural, mas que também eram necessários mais estudos. Uma pessoa familiarizada com as discussões que ocorreram entre diplomatas europeus que preparam o encontro disse que os EUA pediram ao bloco apoio para um novo estudo sobre as origens da Covid.
A Casa Branca não respondeu a um pedido de comentário da Bloomberg. A declaração é um rascunho e pode mudar antes que os líderes dos EUA e da Europa se reúnam em Bruxelas, em 15 de junho.
O documento também diz que os EUA e a UE “se comprometem a trabalhar juntos para o desenvolvimento e uso de um meio rápido e independente para investigar esses surtos no futuro”.
INTELIGÊNCIA DOS EUA
O presidente dos EUA, Joe Biden, emitiu uma inesperada declaração no final do mês passado, revelando que a comunidade de inteligência dos EUA permanece dividida sobre as origens da pandemia – dando nova vida à teoria de que o Sars-CoV-2 teria escapado de um laboratório, levantada no ano passado por autoridades do governo de Donald Trump.
Biden disse que dois “elementos” da comunidade de Inteligência, que ele não identificou, consideraram ser mais provável uma origem natural para o vírus, enquanto outro se inclinou para o Instituto de Virologia de Wuhan, um centro global onde ocorrem pesquisas de tipos de coronavírus. Cada lado tinha “confiança baixa a moderada”.
Biden quer que as agências de inteligência apresentem um relatório sobre o tema em 90 dias. Isso gera a perspectiva de que a questão aqueça antes da Cúpula G-20 no final de outubro, onde Biden pode potencialmente se encontrar com o presidente chinês Xi Jinping.
A UE também arriscaria irritar a China ao dar seu apoio ao estudo. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, criticou a ação de Biden como uma tentativa de se envolver em “estigmatização, manipulação política e transferência de culpa”.
COVAX
Em outra parte da declaração, os EUA e a UE se comprometerão a continuar apoiando o consórcio global Covax para aumentar a vacinação nos países em desenvolvimento e “incentivarão mais doadores a disponibilizarem 2 bilhões de doses de vacina em todo o mundo até o final de 2021”.
O financiamento e distribuição de vacinas em países em desenvolvimento deve ser um item importante da agenda quando os líderes do G-7 se reunirem na Inglaterra nesta sexta-feira (11). O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse que deseja que o grupo se comprometa a vacinar o mundo inteiro até o final do próximo ano.
A UE e os EUA também se comprometerão a trabalhar juntos em suas “abordagens multifacetadas semelhantes para a China, que incluem elementos de cooperação, competição e rivalidade sistêmica”. O rascunho apresenta uma lista de preocupações compartilhadas em relação a Pequim, incluindo violações dos direitos humanos em Xinjiang e no Tibete, a erosão da democracia em Hong Kong e a situação nos mares do Leste e do Sul da China.