Lula nega ditadura na Venezuela, mas diz ser ‘regime desagradável’

Presidente brasileiro afirma que país vizinho vive governo de “viés autoritário”

Ao comentar o cenário político da Venezuela, o esquerdista brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), negou que o país viva sob uma ditadura. De acordo com o petista, trata-se de um “regime muito desagradável” e de “viés autoritário”, mas diferente das nações ditatoriais que conhecemos no mundo. As declarações foram dadas nesta sexta-feira (16), em entrevista à Rádio Gaúcha.

“Eu acho que a Venezuela vive um regime muito desagradável. Não acho que é ditadura, é diferente de uma ditadura. É um governo com viés autoritário, mas não é uma ditadura como a gente conhece tantas nesse mundo”, avaliou.

O chefe do Executivo também descreveu o país vizinho como “interessante” para o Brasil.

“É um país que tem quilômetros de fronteira com o Brasil, que o Brasil chegou a ter quase R$ 5 bilhões de superávit comercial, que pode ser um grande parceiro do Brasil”, ponderou.

Na entrevista, Lula ainda revelou que o governo de Nicolás Maduro tentou impedir que o assessor da Presidência brasileira para assuntos internacionais, Celso Amorim, fosse à Venezuela acompanhar o pleito, realizado no dia 28 de julho.

“Eu mandei comunicar que se o Celso Amorim não pudesse ir, eu comunicaria à imprensa que a Venezuela estava impedindo. Aí, deixaram o Celso Amorim ir”, acrescentou.

O petista também cobrou a divulgação das atas eleitorais por parte do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela e disse que só reconhecerá o novo governo quando tiver acesso aos documentos que atestam a vitória.

“Teve uma eleição, a oposição falou “ganhei as eleições”, o Maduro disse “ganhei as eleições”. O que eu estou pedindo são as atas eleitorais. Cadê a ata? A aferição das urnas?”, questionou.

Lula, no entanto, não mencionou que a oposição divulgou cópias das atas eleitorais mostrando a vitória de Edmundo González Urrutia.

O líder do Planalto ainda lamentou que a líder oposicionista, María Corina Machado, tenha considerado um “insulto” sua sugestão de realizar novas eleições no país.

“A oposição não gostou da ideia que eu falei que poderia o Maduro, que tem seis meses de mandato ainda, convocar uma nossa eleição. Não gostou, o Maduro também não gostou. Agora, fica a oposição dizendo “nós ganhamos” e o Maduro dizendo “nós ganhamos””, acrescentou.

O petista aproveitou o momento para alfinetar o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, que está preso a mando do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, sob acusação de interferir no segundo turno das eleições. Segundo ele, as eleições na Venezuela foram tranquilas, “não teve sequer PRF impedindo eleitor de votar”.

NOTA DO PT

Ao ser questionado sobre a nota do Partido dos Trabalhadores (PT) reconhecendo a vitória de Maduro, o presidente disse que discorda do posicionamento da sigla à qual é afiliado.

“Não penso igual à nota, eu não sou da direção do PT. O partido não é obrigado a fazer o que o governo quer, o governo não é obrigado a fazer o que o partido quer. Digo sempre a minha presidente Gleisi Hoffmann, o dia que precisar criticar o governo, pode criticar”, afirmou.

Lula está no Rio Grande do Sul para participar de agenda que inclui a entrega de obras do Minha Casa Minha Vida, do Complexo Viário da Scharlau, na BR-116 em São Leopoldo e da inauguração de uma ala do Grupo Hospitalar Conceição, em Porto Alegre.

Na mesma entrevista, ele reclamou do governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), insinuando ingratidão por parte do gestor, após o tucano dizer que o governo federal fez muita propaganda, mas pouca ajuda chegou ao RS em meio às enchentes que devastaram o estado.

“Eu às vezes fico incomodado porque o governador nunca está contente com as coisas. O governador deveria um dia me agradecer. Dizer: “Lula, obrigado pelo tratamento que você está dando ao Rio Grande do Sul, porque o Rio Grande do Sul nunca foi tratado assim””, completou.

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