GDias mentiu ao menos 11 vezes em depoimento à PF sobre 8/1

Declarações do ex-GSI foram facilmente desmentidas por documentos e mensagens de seu próprio celular

Buscando se esquivar da responsabilidade pela depredação dos edifícios dos Três Poderes em 8 de janeiro, o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Lula, Gonçalves Dias, mentiu ao menos 11 vezes durante seu depoimento à Polícia Federal (PF), em abril. As declarações facilmente desmentidas deixaram claro aos investigadores que não se pode confiar em suas palavras. As informações são do colunista Paulo Cappelli, do portal Metrópoles.

Na lista de inverdades ditas pelo militar às autoridades, está a de que ele não tinha conhecimento dos atos radicais que estavam sendo programados para o dia 8. Na verdade, ele mesmo encaminhou à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) uma convocação que circulava em grupos nas redes sociais com planejamentos de invasão à Praça dos Três Poderes.

GDias mentiu ao dizer que não recebeu alertas da Abin sobre o caso, e que só havia ficado ciente quando esses foram encaminhados ao Senado por meio de relatório. Como amplamente divulgado pela imprensa, o general não apenas foi advertido pela agência, como teve acesso ao relatório que seria enviado à Casa Legislativa previamente, e determinou que seu nome não constasse na lista das autoridades que foram avisadas sobre os riscos do 8 de janeiro.

GDias mentiu quando negou ter recebido relatórios sobre o aumento de fluxos de ônibus em Brasília. As autoridades comprovaram que o GSI recebeu um documento trazendo exatamente essa informação na véspera das depredações.

GDias mentiu ao negar saber se a Abin baseava-se em dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). No dia 7 de janeiro, a agência encaminhou ao celular do até então ministro exatamente informações da ANTT sobre o aumento do fretamento de ônibus para Brasília no fim de semana, apontando um total de “105 ônibus, com cerca de 3.900 passageiros”.

GDias mentiu ao alegar que não determinou o monitoramento das manifestações, quando, na verdade, ele mesmo encaminhou mensagens sobre os riscos a Saulo Moura, até então diretor da Abin, que reagiu dizendo que continuaria a fazer relatórios de monitoramento.

GDias mentiu ao defender que não sabia se a Abin fiscalizava o acampamento diante do quartel-general do Exército no dia 7 de janeiro. As autoridades constataram que ele recebia atualizações frequentes do monitoramento em seu celular.

GDias mentiu quando alegou que recebeu vários alertas da agência, mas que nenhum era sobre os protestos. Na verdade, quase todos os informes que ele recebeu eram sobre esse tema.

GDias mentiu ao afirmar que não havia informações importantes nas mensagens recebidas pela agência. Dois dias antes das depredações, a Abin já destacava a previsão de manifestantes armados, danos contra prédios públicos na praça dos Três Poderes e risco de vida contra autoridades.

GDias mentiu ao dizer que acompanhar os movimentos era uma atribuição do Ministério da Justiça, do Ministério da Defesa e da Secretaria de Segurança Pública. A Abin, que fica sob responsabilidade do GSI, é encarregada de apurar ameaças ao Estado Democrático de Direito.

GDias também mentiu ao falar que acionou o Plano Escudo a fim de proteger o Planalto. O protocolo só foi deflagrado depois da invasão, o que fez com que ele se tornasse inexecutável.

O ex-ministro de Lula depõe à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos de 8 de janeiro nesta quinta-feira (31) e enfrenta os questionamentos da oposição. O ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou que ele fique em silêncio sobre temas que possam incriminá-lo.

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