Federação de Xadrez decide vetar trans em torneios femininos

Decisão causa polêmica por não se tratar de competição física

Uma decisão da Federação Internacional de Xadrez (Fide) sobre a participação de competidoras transgênero, em seus torneios, tem gerado grande repercussão. Na última segunda-feira (14), a entidade publicou uma regulamentação proibindo mulheres trans de competirem em eventos exclusivamente femininos.

No documento, a entidade reconhece que tem recebido com frequência pedidos de inscrição de enxadristas que se identificam como transgênero e que outras políticas devem ser desenvolvidas no futuro dentro da modalidade.

Na normativa, a Fide estabelece que o pedido de alteração de gênero para enxadristas já cadastrados deve ser acompanhado de provas em conformidade com as leis do país de origem, como certidão de nascimento, passaporte ou outros documentos de identificação. Na sequência, porém, aparecem algumas restrições que são os verdadeiros alvos de polêmica.

“Caso o gênero tenha sido alterado de masculino para feminino, o jogador não tem direito de participar de eventos oficiais da Fide para mulheres antes de uma nova decisão da entidade”, aponta um dos trechos, que estabelece o prazo de até dois anos para uma resposta sobre a elegibilidade da competidora.

A regulamentação também estabelece que “se um jogador possuir qualquer um dos títulos femininos, mas o gênero for alterado para masculino, os títulos femininos devem ser abolidos”. Porém, se a redesignação for do gênero masculino para o feminino, os troféus permanecem válidos.

Entidades e personalidades do mundo do xadrez e dos direitos LGBTQIA+ questionam a decisão e falam que a medida descrimina mulheres trans e cisgênero, dado que se trata de uma modalidade que se ampara exclusivamente na capacidade intelectual dos competidores.

“A política da Fide para transgêneros é ridícula e perigosa. É óbvio que eles não consultaram nenhum enxadrista transgênero para construir essa regulamentação. Também é uma hora sinistra que isso apareça apenas quando o xadrez está finalmente avaliando agressão e assédio sexual na modalidade, destacando as ligações entre misoginia e transfobia. Eu recomendo veementemente que a Fide reverta a decisão e comece do zero com melhores consultores”, afirmou Jennifer Shahade, bicampeã de xadrez nos EUA e reconhecida enxadrista internacional.

Nos holofotes do mundo do xadrez nos últimos meses, Hans Niemann e Magnus Carlsen não se manifestaram sobre o tema nas redes sociais.

“Não há vantagem física no xadrez, a menos que você acredite que os homens são inerentemente mais capazes de jogar do que as mulheres. Passei minha carreira no xadrez ouvindo que o cérebro das mulheres era menor que o dos homens e nem deveríamos estar jogando. Essa proibição é ridícula e ofensiva para as mulheres”, escreveu Angela Eagle, membro do parlamento britânico e campeã de um torneio nacional de xadrez na juventude.

Até o próximo dia 24, a Fide celebra na capital azerbaijana, Baku, a Copa do Mundo de xadrez. No torneio, computadores também puderam se inscrever.

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