Artigo condena trajetória controversa de Lewandowski

“Serviu à nossa casta política, transformando o garantismo penal em ideologia”, diz o texto

O jornalista e advogado Carlos Graieb, colunista do site O Antagonista, publicou um artigo nesta sexta-feira (24) analisando o perfil do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que está prestes a deixar o tribunal, pela aposentadoria compulsória.

Intitulado Os serviços bem prestados de Ricardo Lewandowski, o texto critica a conduta do magistrado, afirmando que ele “serviu exemplarmente à nossa casta política, transformando o garantismo penal em ideologia”, evidenciando a leniência do ministro com os réus, inclinado a minimizar o poder punitivo e garantir, ao máximo, a liberdade dos julgados.

“Desde o julgamento do mensalão, em meados dos anos 2000, quando sistematicamente votou em favor de políticos corruptos e corruptores, especialmente do PT, Lewandowski esgrime o discurso dos direitos e garantias individuais contra a sanha punitivista que, supostamente, encontrou nos políticos um alvo fácil”, observou.

Graieb mencionou um posicionamento de Lewandowski ao site Consultor Jurídico, onde o magistrado declara pautar suas decisões pelo “respeito aos direitos das pessoas, mesmo aquelas que, por um deslize individual ou capricho do destino, passem a ser alvo da execração pública ou da perseguição por segmentos da sociedade”, e numa declaração quase autobiográfica, o ministro, ainda que sem perceber-se confesso, pavimenta o terreno para o cronista.

“Esses eufemismos são típicos de Lewandowski. A corrupção política no Brasil não é feita de “deslizes” ou “caprichos do destino”. Ela é um fenômeno sistêmico, praticado por quem deseja ficar no poder para sempre ou apenas enriquecer”, corrige o jornalista.

“(…) A lei não é igual para todos no Brasil; quem tem recursos e acesso a advogados caros consegue se livrar das punições mais severas, nem que demore um pouco. Lembremos dos mais de 400 recursos apresentados pela defesa de Lula nos processos da Lava Jato”, lembrou.

O advogado ressaltou a participação de Lewandowski na anulação de toda tramitação do processo de Lula.

“Lewandowski, é claro, teve papel central na anulação das condenações de Lula. Mas isso, por si só, não faria dele um ideólogo – como Kassio Nunes, que também considerou Sergio Moro parcial nas ações contra o atual presidente, não o é”, observou.

“A insistência de Lewandowski em desqualificar a Operação Lava Jato completamente, como um acúmulo insanável de arbitrariedades e perseguições injustas, é o que o torna o criador de uma “falsa consciência””, disparou o colunista.

Já no fim da análise, Carlos Graieb se mostra indignado com a “troca de passes” entre o magistrado e o atual presidente, destacando que ambos se reunirão para discutir a sucessão de Lewandowski no STF. Ele condena o fato do “ocupante de um cargo vitalício seja consultado assim, de forma tão sem cerimônia, sobre sua própria sucessão”.

E na conclusão, o jornalista revela não saber o que o ministro dirá nesse encontro, mas, seguindo a coerência do andamento da trama, supõe que ele endossará o nome de Cristiano Zanin, “que já consta das bolsas de apostas para a sua vaga”. E finaliza com uma pergunta encharcada de sarcasmo. “Quem melhor do que o advogado de Lula para dar prosseguimento ao seu legado?”

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