Globo libera íntegra de gravações com Marcos do Val

Decisão abre precedente que afeta a prática jornalística

O Grupo Globo confirmou ao portal Poder 360 que vai liberar a íntegra das entrevistas feitas com o senador Marcos do Val (Podemos-ES) sobre as supostas tentativas de anular o resultado das eleições de 2022. Em nota, o conglomerado de mídia afirma que não realizou nenhuma gravação “em off” — jargão jornalístico que se refere a algo dito numa entrevista, na condição de que a informação não seja divulgada.

“A Globo vai fornecer as entrevistas publicadas como decidiu o ministro e esclarece que não havia nada em off nas entrevistas de Marcos do Val à “GloboNews”. A entrevista concedida ao ‘Estúdio i’ já havia sido exibida ao vivo na íntegra. E a entrevista a Marina Franceschini, que teve trechos exibidos no ‘Conexão’ e em outros telejornais, não traz nenhuma informação em off na sua íntegra bruta”, afirma o grupo em nota enviada ao site.

Com a decisão do veículo de imprensa, um precedente perigoso para a a prática do jornalismo é criado. A partir de uma decisão como essa, qualquer autoridade judicial ou não pode solicitar “materiais brutos”, ou seja, momentos de gravações que não vão ar a pedido dos entrevistados ou pelo tempo destinado ao assunto no programa.

Não há jurisprudência sobre a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes que permita que a prática seja adotada. O direito de sigilo da fonte — nome dado a quem fornece uma informação direta ao jornalista — é garantido pela Constituição Federal.

“Art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

“Inciso XIV – e assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.

O pedido de Alexandre de Moraes

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou na sexta-feira 3, a quebra de sigilo da fonte da revista Veja, da emissora CNN Brasil e do canal GloboNews. O juiz do STF quer que os veículos de mídia entreguem o conteúdo gravado de entrevistas que fizeram com o senador Marcos do Val (Podemos-ES).

A ordem inclui ainda a Meta, que controla o Instagram. Moraes estabeleceu à empresa que “encaminhe aos autos” o “inteiro teor da live realizada pelo senador Marcos do Val em seu perfil no Instagram, na madrugada de 2 de fevereiro”.

Em virtude das contradições, Moraes exigiu aos veículos de comunicação a liberação da íntegra gravada de entrevistas que fizeram com Do Val. O objetivo do juiz do STF é comparar com o que o senador disse, ontem, em depoimento à Polícia Federal.

O documento passou, ainda, por uma revisão — o texto inicial previa multa aos veículos, em caso de não cumprimento da determinação, de R$ 100 mil por dia. O trecho foi retirado da versão final do documento.

A assessoria do STF disse que o pedido inicial de multa “tratou-se de um erro material de minuta da decisão, que logo foi substituída pela correta”.

Moraes recua de decisão de multar CNN, Veja e GloboNews

Minutos após determinar uma multa de R$ 100 mil por dia aos veículos Veja, CNN Brasil e GloboNews caso não entregassem a íntegra do conteúdo gravado das entrevistas que fizeram com o senador Marcos do Val (Podemos-ES) em cinco dias, o ministro do STF Alexandre de Moraes voltou atrás.

Em um segundo despacho publicado na noite desta sexta-feira (3), o ministro retirou o prazo de cinco dias dados às empresas e a necessidade de expedição de ofícios para as mesmas. Na versão final do documento, Moraes determina que seja feito contato “com as respectivas empresas para viabilizar a obtenção das matérias jornalísticas já devidamente publicadas pela mídia e de conhecimento público”.

A possibilidade de multa, portanto, também foi eliminada. O argumento de Moraes é de que por ter escrito a expressão “publicadas”, não estaria quebrando o sigilo da fonte dos veículos jornalísticos. A decisão do ministro também inclui a empresa Meta, dona do Facebook e Twitter.

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